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Capítulo 28: XXVIII - Confidências do cego

Página 155
Maria e Joana, venham oferecer os seus serviços ao senhor conde.

Entraram as duas senhoras, e Vitorina com um menino de ano e meio no colo.

O conde fez menção de levantar-se, quando sentiu frémito de vestidos.

- Não se levante vossa excelência - susteve Francisco. - Aqui estão minha mulher e minha irmã.

- O cego estendeu as mãos, tomou as das senhoras.

- A da esquerda qual é? - perguntou ele.

- É minha mulher.

- Parece-me, notou o conde, que a presença de um ancião cego a comove sensivelmente, minha senhora!... Vossa excelência tem a sua mão tremula e ardente... Se tem compaixão desta velhice em trevas, deixe estar que seu marido lhe há de dar a satisfação de me abrir outra vez o mundo diante destes olhos.

- Deus o permita... - balbuciou Ângela.

- Pouco hei de viver - tornou o conde -; mas eu queria ainda ver o Sol, um dia que fosse, o céu que não vejo há dois anos, contados noite por noite, porque eu nunca mais distingui o dia das trevas. Vossas excelências ser ao testemunhas da minha doida alegria... Ouço a voz dum menino que chama sua mãe... É o seu filhinho, minha senhora?

- É sim, senhor conde.

- Deixe-me beijá-lo, se ele me não tiver medo.

A criancinha foi facilmente aos braços do velho, deixou-se beijar, e ficou a olhá-lo no rosto com infantil fixidez.

- Eis aqui a florinha que desabrocha sobre uma sepultura... - disse o velho. - Que mavioso grupo, não é? Foi em França, não sei em qual palácio de Carlos X, que eu vi assim uma pintura, e uma legenda que dizia: Aurora que alumia um túmulo... Ora vá, vá, anjo, que deve estar admiradinho de se ver entre as tristes ruínas duns setenta anos!... Aqui o tem, senhora D. Maria...

Ângela bem queria esconder o seu pranto do fidalgo de Chaves, que a contemplava como espantado de tamanha sensibilidade; mas a comoção vencia a infundado receio de denunciar-se.

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pág. 155 (Capítulo 28)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 155

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174