Decorreram seis meses. Ângela foi mudando salutarmente para ambos. Estava afeita. Conversava com melhor sombra; mas acariciava um gato para sentir o prazer nativo de suas aveludadas mãos. Hermenegildo olhava para o lombo luzidio do bicho, e espumava umas cóleras que engolia azedas como vômito de digestão derrancada.
Na primavera deste ano, o brasileiro foi à terra, e só, para queixar-se à irmã nestes termos:
- Ela não me tem casta de amor nenhum. Passam-se dias que não dá palavra, e noites que adormece a rezar e lá fica. Este casamento foi o diabo! Cabeçada assim nunca a deu homem de juízo! É bonita, mas de que serve? É como quem tem um painel em casa. Se é fidalga, isso cá a mim que me faz? Fidalga é a burra. Enfim, desde que me desenganei que não há volta a dar-lhe, lancei cá os meus cálculos, e já sei o que hei de fazer... Nada de me apaixonar. Mulheres que me queiram não faltam. Eu me arranjarei como fazem todos.
A irmã deu-lhe bons conselhos, e recomendou-lhe paciência e juízo.
- Lembra-te, dizia ela, que a pobre menina fez uma promessa para te salvar da morte, e casou contigo sem amor.
- Então não casasse.
- Eu disse-to, e tu disseste que o amor vinha depois. Então espera que ele venha, meu filho.
- Agora vem! Olha que ela está-se a fazer velha; e de aborrecida já nem parece a mesma. Está mais amagrada, e branca como a cal da parede.
- Coitadinha! - atalhou Rita, condoída.
- Coitadinho de mim!
- Mas tu estás bem gordo, Hermenegildo!
- Bem haja eu! Pudera não! Vou fazendo pela vida.
- Mas não a mortifiques, que ela é um anjo.
- Não me cantes lérias, Rita! Aquela mulher tem lá no interior outra paixão antiga. E queira Deus ou o diabo que ele me não pregue alguma, que eu não sou para graças. À primeira que me fizer, ponho-me ao largo.