Uma Família Inglesa - Cap. 21: XXI - O que vale uma resolução Pág. 260 / 432

Manuel Quintino subiu as escadas apoiado de um lado em Cecília, de outro em Carlos. Foi assim que entrou para a sala, onde Antónia e José Fortunato, no meio de felicitações, de perguntas, e até de conselhos, lançavam olhares de desconfiança a Carlos, que nem atenção lhes dera ainda.

Passada a primeira explosão de alegria, incoerente e irreflectida, houve lugar no coração de Cecília para duas ordens de sentimentos opostos.

O primeiro foi de gratidão para Carlos.

Estendeu-lhe amigavelmente a mão, disse-lhe, com um olhar, uma inflexão de voz e um rubor de faces que multiplicavam o pouco valor da palavra:

– Muito obrigada.

Frase insignificante, que nesta ocasião teve mais eloquência do que um discurso.

Depois, inquietou-a outra vez o estado em que via o pai. A decomposição do rosto, a palidez, a tristeza não habitual reproduziram vivos os receios que a chegada dele serenara.

Interrogou-o então sobre os pormenores do sucedido. Carlos deu uma rápida explicação.

Cecília escutava-o com o sobressalto do susto e lágrimas de reconhecimento. Antónia e José Fortunato acharam nos factos pretextos para formularem conselhos de prudência, a que eles só deram atenção.

Cecília redobrou de cuidados para com o pai; que os aceitava com certa frieza mórbida, que a assustava.

Carlos associou-se por vezes à jovem e carinhosa enfermeira, e com tão inteligente solicitude que obteve dela frequentes sorrisos de aprovação e de agradecimento.

Quando o médico chegou, ainda Carlos não deixara a casa.

O facultativo informou que tinha sido aquilo uma das oito formas de congestão cerebral admitidas por o professor Andral, e das mais benignas. Descreveu os sintomas, apreciou as causas, formulou o tratamento, sangrou e saiu.

Manuel Quintino achava-se melhor.





Os capítulos deste livro