Uma Família Inglesa - Cap. 31: XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino Pág. 360 / 432

– Que danada tenção tem você hoje de me inquietar, mulher? Que maldita suspeita é essa, língua de víbora? Não vê que pode matar-me com essas palavras envenenadas, não vê, demónio?

– Deus me perdoe, Sr. Manuel Quintino, que não faço isto por mal. Mas sabe o amor que tenho à família, e não queria que alguma desgraça acontecesse…

– Cale-se, mulher, cale-se! Eu sei que são boas as suas intenções; mas Cecília disse-me que Jenny fora quem a convidara.

– Pois eu não digo que não. Eu sei até que a menina ontem recebeu uma carta de mando da Sr.a Jenny; ela não me disse o que ela continha, nem eu lho perguntei. Mas, esta manhã, logo depois que saíram, veio aí um criado de lá com outra carta; não era o mesmo, mas sim um que eu vi, no dia do passeio com a comediante, e que, pelos modos, é criado só do rapaz. – De quem vem essa carta? – perguntei-lhe eu. – «Vem – disse o brejeiro, com modos avelhacados e sorrindo – vem de miss Jenny.» Mas, eu não sei… a carta é tão diferente das que…

– E essa carta? – perguntou Manuel Quintino, fora de si.

– Essa carta está lá dentro.

– E Cecília?…

– Esta não a leu ela, porque veio depois que saíram.

– Vá buscar-ma.

– Mas talvez seja da filha, talvez; eu…

– Vá buscar-ma – exclamou Manuel Quintino, elevando mais a voz.

Em poucos momentos foi executada a ordem.

Manuel Quintino passeava, levava as mãos à cabeça, fechava os olhos, aspirava em ânsia, parecia louco.

Antónia trouxe a carta. Manuel Quintino lançou os olhos para o sobrescrito e estremeceu.

Reconhecera o talhe da letra de Carlos!

Deixou-se cair com desalento na cadeira que tinha próxima.

– Ó meu Deus! Estarei destinado a este infortúnio?… – murmurava ele, com a cabeça escondida entre as mãos, através das quais passavam as lágrimas.





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