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Capítulo 31: XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino

Página 361

Depois, com um movimento de raiva, tentou abrir a carta que conservava ainda nas mãos; mas suspendeu-se por um melindroso sentimento de delicadeza, que não conseguiu vencer.

– Não, não abrirei! Não há infâmia que desculpe uma vileza.

Antónia, que prometera farto alimento à curiosidade, suspirou de despeito.

– Então não lê?

– Não – respondeu secamente Manuel Quintino, que principiou de novo a passear pela sala a passos largos. Depois, tomando uma súbita resolução, parou e disse, erguendo a cabeça: – Antónia, o meu chapéu e o meu casaco.

Antónia abriu para ele os olhos espantados.

– Credo! Que vai fazer, senhor?

– O meu chapéu e o meu casaco!

– Sr. Manuel Quintino! Onde é que quer ir? O senhor não está em si!

– Não ouviu, mulher?! O meu chapéu e o meu casaco!

Havia na voz do pai de Cecília uma entonação especial, que, sendo nova para a Sr.a Antónia, não pôde a experiência dela dizer-lhe de que seria presságio, e por isso prudentemente resolveu obedecer, sem mais comentários.

Dentro em pouco, voltou com os objectos pedidos, dizendo apenas, como a medo:

– Mas, aonde vai, senhor?

– Saber a verdade – respondeu Manuel Quintino; e, sem ulterior explicação, desceu apressado as escadas.

Antónia parecia paralisada de espanto.

– Sume-te! – dizia ela. – O homem vai varrido! Ora queira Deus! Queira Deus que ele não vá para aí fazer alguma! Nossa Senhora nos livre de tentações do Demónio e dos maus inimigos da alma.

A Sr.a Antónia professava um ódio, desenganadamente cordial, contra os tais inimigos que mencionou.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 361

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432