Uma Família Inglesa - Cap. 3: III - Na Águia de Ouro Pág. 40 / 432

Subindo-lhe ao cérebro

O mágico aroma,

Esquece Mafoma,

Huris e Alcorão.

Longe, ó longe, o ópio,

Que os sonhos deleita

Da mísera seita

Dos Theriakis!

Horror ao narcótico

Que vem das papoulas!

E ao que arde em caçoulas,

No altar do Caciz!

Que a raça gentílica

Das zonas ardentes

Consuma as sementes

Do arábio café.

Despejem-se as chávenas

Da atroz beberagem

Da cor do selvagem

Da adusta Guiné.

E a tal folha exótica,

Delícias da China,

Por nossa má sina

Trazida de lá,

Servida em família,

Num morno hidroinfuso?…

Anátema ao uso

Das folhas do chá!

Nem tu, ó alcoólico

Humor dos lagares,

Terás meus cantares,

Meus hinos terás.

Embora das ânforas

Vazado nas taças

Aos outros tu faças

A língua loquaz.

Cerveja britânica,

De furor espuma!

De coisa nenhuma

Me podes servir.

Quando ouço do lúpulo

Gabarem proezas,

Às bocas inglesas,

Desato-me a rir.

Nem venha da cânfora

Pregar maravilhas

O das cigarrilhas

Famoso inventor.

Raspail é cismático

E eu sou ortodoxo,

O seu paradoxo

Não me há-de ele impor.

Meu canto é da América

País do tabaco,

Perante o qual Baco

Seu ceptro partiu.

A Europa, Ásia e África

E a Terra hoje toda

Este herói da moda

De fumo cobriu.

Até na Lapónia,

Da gente pequena,

Se fuma; e no Sena,

No Tibre e no Pó,

No Volga e no Vístula,

No Tejo e no Douro;

Que imenso tesouro

Se deve a Nicot!

Meus áridos lábios

Mais fundos inda aspirem!

Que os parvos suspirem!

Por beijos, aos mil.

Não quero outros ósculos,

Não quero outra amante.

Qual mais doudejante

Que o fumo subtil?

Tornadas Vesúvios,

As bocas fumegam.

De nuvens que cegam

Vomitam montões.

Fumar! Ó delícias!

Prazer de Nababo!

E leve o diabo

Do mundo as paixões!

– Bravo! – disseram quantos o escutavam, deveras entusiasmados com a musa do recitador.





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