Subindo-lhe ao cérebro
O mágico aroma,
Esquece Mafoma,
Huris e Alcorão.
Longe, ó longe, o ópio,
Que os sonhos deleita
Da mísera seita
Dos Theriakis!
Horror ao narcótico
Que vem das papoulas!
E ao que arde em caçoulas,
No altar do Caciz!
Que a raça gentílica
Das zonas ardentes
Consuma as sementes
Do arábio café.
Despejem-se as chávenas
Da atroz beberagem
Da cor do selvagem
Da adusta Guiné.
E a tal folha exótica,
Delícias da China,
Por nossa má sina
Trazida de lá,
Servida em família,
Num morno hidroinfuso?…
Anátema ao uso
Das folhas do chá!
Nem tu, ó alcoólico
Humor dos lagares,
Terás meus cantares,
Meus hinos terás.
Embora das ânforas
Vazado nas taças
Aos outros tu faças
A língua loquaz.
Cerveja britânica,
De furor espuma!
De coisa nenhuma
Me podes servir.
Quando ouço do lúpulo
Gabarem proezas,
Às bocas inglesas,
Desato-me a rir.
Nem venha da cânfora
Pregar maravilhas
O das cigarrilhas
Famoso inventor.
Raspail é cismático
E eu sou ortodoxo,
O seu paradoxo
Não me há-de ele impor.
Meu canto é da América
País do tabaco,
Perante o qual Baco
Seu ceptro partiu.
A Europa, Ásia e África
E a Terra hoje toda
Este herói da moda
De fumo cobriu.
Até na Lapónia,
Da gente pequena,
Se fuma; e no Sena,
No Tibre e no Pó,
No Volga e no Vístula,
No Tejo e no Douro;
Que imenso tesouro
Se deve a Nicot!
Meus áridos lábios
Mais fundos inda aspirem!
Que os parvos suspirem!
Por beijos, aos mil.
Não quero outros ósculos,
Não quero outra amante.
Qual mais doudejante
Que o fumo subtil?
Tornadas Vesúvios,
As bocas fumegam.
De nuvens que cegam
Vomitam montões.
Fumar! Ó delícias!
Prazer de Nababo!
E leve o diabo
Do mundo as paixões!
– Bravo! – disseram quantos o escutavam, deveras entusiasmados com a musa do recitador.