Uma Família Inglesa - Cap. 5: V - Uma manhã de Mr. Richard Pág. 57 / 432

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Foi pois a música correspondente a esta canção que Mr. Richard interrompeu quando, ao entrar na sala, viu que com um único talher estava preparada a mesa.

– Carlos está ainda na cama? – disse, voltando-se para Jenny e num tom em que se revelavam ligeiros indícios de mau humor.

Cumpre-me avisar aqui os leitores de que, para dupla comodidade, minha e sua, farei falar português a Mr. Richard, e até segundo as regras de uma gramática cuja autoridade ele nunca reconheceu.

Jenny sentiu a necessidade de advogar a causa do irmão junto de Mr. Richard, que, já bastante indisposto com a ausência de Carlos no dia do seu aniversário, encarava agora com maus olhos tais excessos de indolência filial.

Profundo admirador das belezas deste mundo sublunar, Mr. Richard olhava o sono como um invejoso que nos furta algumas horas de prazer nesta vida, e ao qual, obrigado a fazer ligeiras concessões, tratava sempre como inimigo.

À interrogação paterna, Jenny respondeu:

– Ainda.

– Ho! – acudiu Mr. Richard, com a sua monossilábica e gutural interjeição de desgosto, acompanhando-a dos acessórios do costume.

Jenny acrescentou:

– Charles teve de se recolher ontem mais tarde…

– Escolheu bem o dia.

– Não se lembrava…

– Esquisito!

– Creia que se não esqueceria assim, se se tratasse do dia 3 de Julho, do aniversário do pai.

Mr. Richard sentou-se e pôs-se a ler o Times.

Jenny sentou-se defronte dele, mas arredada da mesa.

– E, como se deitou tarde – prosseguiu ela, passado tempo – e eu receei que a falta de descanso lhe pudesse fazer mal, ordenei que o não chamassem.

– Então veio muito tarde?

– Julgo que… às duas horas… – balbuciou Jenny.

O criado, que começara a servir Mr. Richard, pensou fazer um obséquio corrigindo:

– Perdão, miss Jenny, passava já das quatro.





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