– Ho! – repetiu Mr. Richard.
Jenny olhou para o criado de maneira que lhe deu a conhecer a inconveniência da correcção.
– Foi uma promessa que Charles fez a uns amigos… – disse ela – e só soube o dia que era, quando já não ia a tempo de recusar.
Mr. Richard não precisava de ouvir mais nada, para suspender as suas censuras. Tinha já perdido o hábito de discordar da filha. Por isso só respondeu, lendo o Times:
– Sim, sim. Está bom. O mal dessas extravagâncias é dele e por isso…
Nisto entrou, aos saltos, na sala um desses pequenos cães felpudos, pretos e pardos, verdadeiros Átilas dos ratos e rivais dos velhos exterminadores desta raça perseguida.
– Ó Butterfly, good morning! How do you do, sir? – exclamou Mr. Richard, saudando o seu cão predilecto, que lhe estendeu a pata como para um shake-hand. Havia nisto um requerimento a uma fatia de fiambre, o qual o inglês não indeferiu.
O pequeno quadrúpede sentou-se então com familiaridade na cadeira devoluta ao lado do seu dono, fazendo a devida justiça às sobras do lunch que lhe cabiam em partilha.
Jenny erguia-se a cada momento para servir o pai, atendendo a particularidades, fúteis de mais para merecerem a observação do criado ou de outrem que não fosse uma filha.
Numa destas ocasiões, Mr. Richard, como se não tivesse perdido ainda o fio da conversa anterior, disse a meia voz:
– É que há oito dias que nem aparece no escritório e… é feio isso.
Jenny não respondeu.
Era claro que durante todo o tempo, em que tinham guardado silêncio, o mesmo pensamento ocupara o espírito de ambos.
Receio que os redactores do Times não tivessem desta vez conseguido cativar a atenção do seu leitor.
Levantou-se por fim o inglês.
Lavando as mãos e estendendo a vista pelos floridos tabuleiros do jardim, murmurava ainda:
– Parece mal.