- Dê-me o quarto de seu irmão para mim e para a minha Vitorina.
- Pois que é, minha senhora? Que é isto?! - exclamou Joana.
- É que fui expulsa; não tenho casa, nem “fortuna”. Veja como se cai depressa, minha amiga! Apesar disso, quando a queda não é vergonhosa, a gente parece que sente as asas dos anjos a ampará-la.
Referiu Ângela o sucesso dos brilhantes, da intimação para responder à autoridade, da mensagem dos amigos do marido, etc. se Joana a interrompia com o choro, a serena hóspeda revelava desgosto, e queixava-se do mau uso que ela fazia das lágrimas.
Finda a relação, a filha do general foi tomar posse do quarto de Francisco, quedou largo tempo a examinar as mais insignificantes coisas, buliu nos livros, nas gavetas, nos papéis escritos, sorrindo a tudo.
- O meu livrinho das Esperanças? - perguntou ela.
- Levou-o. Costuma estar neste sitio - respondeu Joana indigitando um lugar vazio entre dois livros.
- Pois irá para o lugar dele o livro dos SONHOS.
E colocou o manuscrito, examinando os dois livros laterais. Eram também manuscritos, e ambos com o mesmo título: ÂNGELA.
Joana disse, sorrindo:
- Eu nunca lhe contei que ele tinha esses livros...
- Não.
- De propósito para que vossa excelência os não quisesse ver... Escreveu-os nos primeiros quatro anos da nossa pobreza. Passava as noites nisto, depois de gastar os dias no escritório. Lia-me às vezes alguma página, e abraçava-me se eu chorava. Mas não se entristeça, minha senhora! Já mudou de semblante!
- É felicidade! Não me lamente, minha amiga!... Como eu quero a estes dois livros!... E era capaz de me deixar morrer sem que eu os visse?
- Decerto! Deus me livrasse de eu ir inquietar vossa excelência!... Já depois que meu irmão saiu, estive aqui um dia muito doente, e pensava já em os rasgar, se piorasse; que não fosse alguém ler o que ele dizia de vossa excelência.