.. Aqui há história...
- Sei!... - disse Francisco Costa, encarando-o de lado quando se retirava. - Sei que D. Ângela, até ao momento em que o senhor a expulsou de casa, foi pura e honrada esposa.
- Venha cá! Como sabe isso? - bradou Fialho sentando-se no leito.
O médico tinha saído.
- Aqui há mandinga, por mais que me digam! - monologava o brasileiro, apalpando ao mesmo tempo o fígado congestionado. - Quem diabo disse a este sujeito que a minha mulher estava honrada? É o primeiro homem que me diz isto!... Quero saber este negócio como é! À tarde vou mandá-lo chamar. Se ele puder provar que Ângela estava inocente, mando-a procurar, e dou-lhe uma boa mesada, e a quinta dos Choupos. Mas onde estará ela a esta hora!...
Meditou uma curta pausa e acrescentou:
- Ora bolas! Qual pura nem qual cabaça!... Se ela estivesse inocente, ia pela porta fora?!...
Hermenegildo sentia-se bem disposto para jantar; mas a galinha enjoava-o já. Pediu à Rosa Catraia que lhe levasse do seu jantar. Comeu uma farta gamelada de carne seca com feijão preto, bebeu à proporção vinho de Bordéus, adoçou os bócios com uma tigela de maracujá, e estendeu-se no flácido colchão para sestear.
Pouco depois rugia, apanhando os refegos do estômago que latejava, e contorcendo-se sobre o fígado. Era uma cólica.
Saíram os criados a procurar o doutor Costa. Encontraram-no, caminho já da casa de Hermenegildo Fialho.
- Estou a morrer, se me não acode! - exclamou o doente escabujando nos braços de Rosa Catraia.
O doutor receitou, ouvida a exposição da enfermeira. Um vomitório enérgico arrancou das cavernas daquela sentina a morte envolta em ondas de feijão preto.
Estava desafrontado, mas ardentemente febril.
O doutor examinou atento se as faculdades intelectivas do doente estavam de leve alteradas pelo acesso febril.