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Capítulo 28: XXVIII - Confidências do cego

Página 157
Sopesa o coração, se o sentires mais pusilânime do que eu desejo.

- Conta comigo, Francisco. Ele não me vê chorar.

As duas senhoras sentaram-se em frente do canapé, costurando nas faixas e panos necessários para o curativo. Antoninho agatinhava à preguiceira, e passeava amparando-se à beira do estofo ou aos joelhos do cego, que nunca o deixava passar sem um beijo. A criança ria às guinadas, quando vingava iludir o velho, que se fingia zangado com o engano.

Quem seis dias antes tivesse visto no palacete de Ponte o solitário cego, de fronte abatida para o peito, braços pendidos, ou agitados, a espancar as trevas interiores em busca de um lampejo que lhe deixasse entrever a vida de além túmulo! Quem agora o visse na casinha das Boticas, a brincar com um menino, a rir das criancices que não via, a folgar que Joana lhe descrevesse as cabanas da aldeia, os trajos das barrosãs, a sua maneira de dizer, as bagatelas com que pessoas alegres costumam aligeirar as horas!...

Esta incongruente transfiguração quem a operou? A esperança da luz? O contato da família feliz? A influência misteriosa do que há aí sem nome, e sem ideia nos atos da Providência?

Tudo isto, e o mais que possa ocorrer às almas inteligentes de espiritualismo, não nos dá a causa de tão capital mudança.

Eu ousaria explicar tudo em pouco. A palavra Deus abrange o incógnito de céu e terra, o incompreensível da alma, e o insondável liame de coisas que a razão natural, de pouco alcance mas inflexívelmente orgulhosa, capitula de paradoxos. Deus. Por que não?

Se Simão de Noronha delinquíra, o açoute da justiça não lhe estalava, desde o instante da ira, nas fibras do corpo? Não se lhe apagou primeiro lá dentro a lâmpada da fé? Não lhe tirou Deus o amor paternal para o

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pág. 157 (Capítulo 28)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 157

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174