Vamos por partes. O amigo Fialho desconfia de sua mulher?
- Eu?
- Sim: parece-lhe que ela doidejou e lhe fez alguma patifaria?
- Eu sei cá, homem!... Vejo isto!... Ah! Esquecia-me de dizer que ela diz que deu o dinheiro aos pobres...
- Bem me fio eu nisso! Essa não amolo eu! - refutou Pantaleão, bascolejando nas queixadas um riso galego. - Aos pobres!...
- Também eu não a engulo! - concordou o irmão de misericórdia. - Que diga o nome dos pobres! Sim! queremos saber quem são os pobres. Física e moralmente falando, se ela o não disser, está provado o crime.
- Isso está! - obtemperou Atanásio. - E cá, se a tratantada fosse comigo, era negócio feito, percebe você?
- Você que faria? - perguntou Fialho.
- Eu?! Eu?! Então você ainda me não conhece? Eu cá era dois pontapés, e rua, percebe você?
- Isso não são modos! - obstou Pantaleão Mendes Guimarães. - Amigo Fialho, você averigue esse caso
com vagar.
- Não tenho que averiguar! - recalcitrou o marido de Ângela. - É isto que lhes digo. Gastou o dinheiro e não diz em quê.
- Então, convento com ela! - alvitrou o prudente Guimarães. - Um homem de créditos faz isto. Os amigos digam agora o que entenderem.
- Eu - opinou Joaquim José Bernardo, descascando os rebordos das ventas infectas - física e moralmente falando, também vou para aí, atendendo a que é melhor não dar escândalo. Você administra-lhe de comer e beber no convento, e não quer mais saber dela.
- E se lhe puser demanda a mulher?! - lembrou Atanásio.
- Demanda? Ora essa!... - acudiu Joaquim Bernardo. - Demanda?
- Sim; vamos que ela pede metade da fortuna, ou o dote de trinta contos com que o amigo Fialho a dotou?
- O amigo Fialho não tem nada - respondeu triunfantemente o árbitro. - Tudo que ele tem é nosso por uma escritura de dívida.