Logo que o ensejo se apropositou, Francisco Costa, estando já precavido o escudeiro, volveu a falar ao conde no seu intento de procurar Ângela.
- Ai está João Pedro que dirá a vossa senhoria o nome do homem com quem minha filha foi casada.
O escudeiro custava-lhe a conter em posição sisuda as mandíbulas abertas pelo riso, quando respondeu, voltado para Ângela:
- Chamava-se Hemorragilde.
Abafaram todos o froixo da gargalhada, tirante o conde, que murmurou:
- Vejam que nome! Parece gótico; mas ainda parece mais nome de moléstia... Hemorragilde!...
- Se o senhor conde permitir - disse o cirurgião - vai João Pedro ao Porto com cartas minhas, visto que o dispensamos aqui, e pode lá fazer bons serviços ao nosso intento.
- Pois que vá onde vossa senhoria ordenar - anuiu o conde.
- E, segundo as notícias que nos for comunicando, vossa excelência ordenará o que há de fazer-se. Conjecturemos que ele encontra a Sr.ª D. Ângela. Que manda o senhor conde que ele diga a sua filha?
- Que imediatamente venha para minha companhia - deliberou sem detença o general - que não espere novas ordens; que se recolha à minha casa de Ponte, e espere por mim... e por todos nós... porque vossa senhoria e estas senhoras iriam comigo, não é verdade? Iriam ser testemunhas da felicidade que me começou no seio caritativo e amoroso desta família...
- E se sua filha, senhor conde, quisesse vir aqui mesmo encontrá-lo, não seria isso antecipar-se a ela o júbilo de lhe beijar as mãos?...
- Sim...; mas eu queria poder vê-la... Se ela viesse enquanto dura esta escuridão, seria grande e dolorosa a minha ânsia...
- Concordo, e aconselho até que ela venha depois que vossa excelência estiver convalescido - obtemperou Francisco.
- Mas o doutor parece que dá a vinda como possível! - admirou o conde.