Que-lo mais doido ao pobrezinho do velho?
- Respeite-se a sua dor, embora seja um desatino - disse Ângela. - Então ele amou muito essa mulher?
- Lá isso muito. Ela morreu de aflição, quando o viu ferido em Amarante.
- Já sabia isso. Era uma sublime alma! Conheceu-a?
- Se conheci! Andava ela com o rebanho das ovelhas, quando eu era rapazola de quinze anos. Era muito linda, isso era!
- E de minha mãe, lembra-se?
- Da senhora D. Maria d’Antas?... pois não lembro! Isso foi ontem! Fui criado dela dez anos... como hei de eu não me lembrar?
- A Vitorina diz que era muito formosa...
- Era vossa excelência sem tirar nem pôr. Estou a vê-la. Só era um poucachinho mais alta e corada.
- Lembra-se se ela era muito minha amiga?
- Parece-me que sim...
- Por quê?
- Foi ela quem a criou: não quis ama, como todas as mães que tem de seu.
- Lembra-se da morte dela?
João Pedro respondeu tardamente e tartamudo:
- Não me recordo bem... Eu estava então na quinta de Santo Amaro... Lá é que me chegou a notícia de ter morrido a fidalga... E, quando voltei, o Sr. Simão de Noronha já estava fora de Portugal...
- Mas o Sr. general não mandou buscar os ossos de minha mãe? - perguntou Ângela, chorando no sorriso.
O velho não respondeu.
- Vamos deitar, Vitorina. Até amanhã, Sr. João Pedro.
- Muito bem passe a noite, fidalga.
Ao alvorejar da manhã, Ângela, que velara a noite ao pé do leito de Vitorina, foi sentar-se à banca de seu pai, e escreveu uma breve carta, que sobrescritou ao general Simão de Noronha, pedindo-lhe que perdoasse ao seu criado a caridade de a ter recebido, e lhe ter dado uma cama por uma noite, e lhe haver ainda esmolado dinheiro com que ela e sua criada pudessem chegar a outra porta caritativa. Em seguida, chamou João Pedro ao escritório de seu pai, abriu o cofre das jóias, leu-lhe a declaração do general, e ajuntou:
- É quase certo que, por morte do Sr.