Escolhe. Juro-te que não levantarei cinco réis deste, e do que vier, sem que tu estejas formado. O que peço é que me alugues melhor casa e que a mobiles com mais limpeza. Peço-te muito por ti, e pouquíssimo por mim. Estamos em março; vê se consegues ainda este ano continuar a aula que interrompeste em fevereiro, há quatro anos. Forma-te, meu querido irmão, e serás depois o meu amparo. Então descansarei confiada somente aos teus cuidados.
A lei não permitia abrir matrícula extemporaneamente. Todavia, Francisco passou o restante do ano recordando matérias esquecidas desde as mais rudimentares das aulas preparatórias. Melhorou de casa, comprou livros, sentiu-se renascer, abendiçoou muitas vezes a Providência que sugerira no coração de quem quer que fosse a virtude de repor um roubo - virtude dificílima, digo eu, que encheria o céu de santos, se os ladrões, uma bela manhã, se combinassem para expulsar de lá os bem-aventurados por virtudes fáceis. Roubar e restituir depois, dizia ele, inculca uma transformação moral de tal magnitude que não se faz mister provar com outro fenómeno a divindade da religião que operou tal maravilha.
No primeiro capítulo deste livro vem contado o prosseguimento da venda dos brilhantes até completar-se a formatura de Francisco Costa, concluída em 1846. A ilusão do estudante nunca sofreu quebra. A restituição orçava por 1.650$000 réis, quando o cirurgião-médico, desgostoso de se ver sem clínica, bem que se distinguisse em prémios e habilidade operatória, deliberou aceitar a proposta dum armador para ir ao Rio de Janeiro como cirurgião duma galera. O proponente era Hermenegildo Fialho, sujeito que Francisco nem de nome conhecia. Aceitou sob partido que ficaria no Rio, se lhe aprouvesse.
Joana, na véspera de embarcar-se o irmão, pediu de joelhos a D.