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Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 169
Richard; diz efectivamente o autor do Tom Jones que o vinho tem a propriedade de trazer à luz o verdadeiro carácter dos homens, carácter que, nos períodos de sobriedade, o artifício consegue dissimular muitas vezes. Ora, como dissemos, Mr. Richard Whitestone era sorumbático, por convenção; mas, no fundo, permanecia a jovialidade, que vinha à superfície, à medida que se adiantava o jantar.

Ainda na presença de Jenny, já ele começara a ensaiar alguns gracejos, a contar passagens da sua vida de Londres, travessuras da meninice, e algumas extravagâncias do tempo de rapaz.

Carlos procurava então maliciosamente o olhar da irmã, a qual, pelo contrário, evitava com discrição o dele; porque estas histórias ambos as sabiam já de cor, tão infalíveis elas ocorriam em determinadas circunstâncias.

Sempre que, em tais alturas do jantar, Carlos via servir um peru recheado, esperava já a narração de como, na sua infância, Mr. Richard, então chamado ainda o pequeno Dick, com mais outros companheiros do colégio, tinham conseguido roubar uma destas aves do pátio do reverendo Jackson, seu mestre, e do detestável assado que depois, às ocultas, fizeram com ela.

O lombo de vaca inevitavelmente lembrava a anedota apócrifa daquele rei de Inglaterra que, em um acesso de bom humor, armou cavaleiro este saboroso artigo comestível, ao qual, desde então, se concederam as honras de baronet, como parece indicar o nome de Sirloin ou Sir loin, com que os ingleses o designam.

Um prato de avelãs trazia quase sempre consigo a história de uma célebre aveleira que havia em certo parque das proximidades de Londres, pelo tronco da qual tantas vezes Mr. Richard, ainda criança, trepara com feliz êxito, até um dia em que, escorregando, ficou suspenso de um galho por espaço de alguns minutos.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 169

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432