do aperto… Qual!… Aqui é que eu os quero ver… No fogo é que se conhecem os soldados… Isto de queimar pólvora em fogos presos não presta para nada… Ora escreva, escreva lá, faça o que eu lhe disser e deixe-se de teorias. Não tenha vergonha de aprender. Todos aprendem até à morte.
E principiou a indicar-lhe a maneira de riscar o papel, as inscrições que tinha a fazer, as verbas que devia registar, e isto tudo sem lhe deixar passar por alto a mínima particularidade.
Carlos obedecia-lhe com tal docilidade de discípulo, que fazia rir Cecília.
– Vá; escreva aí, no alto da folha – disse Manuel Quintino –: Factura de… agora um género qualquer que queira carregar.
– De paciência então, que é género de que o Manuel Quintino bem precisa por agora para aturar a moléstia.
– Então! Está a brincar, ou que faz? Paciência preciso, mas é para o aturar a si.
– Paciência confiada ao cuidado de meu pai! – dizia Cecília – Valha-nos Deus! que não é homem que tenha cautela com a mercadoria.
– E adeus! Estão as duas crianças a brincar. E eu que as ature!
Se Manuel Quintino tivesse mais algum conhecimento dos pequenos mistérios do coração, não falaria assim colectivamente de Carlos e Cecília. Isto de os confundir debaixo da denominação genérica de crianças era imprudente, no estado actual dos sentimentos de ambos.
Prosseguiu a indicação da maneira de encher a factura e com isto terminou a lição.
Em seguida, serviu-se o chá, que naquela noite não soube a José Fortunato como de costume.
Manuel Quintino, apesar das suas impaciências, estava, de si para si, espantado de tanto que sabia Carlos.
– Que esperteza de rapaz! – dizia ele para Cecília, quando esta, depois de todos se haverem retirado, fazia engolir ao pai a última chávena de caldo daquele dia e lhe arranjava os travesseiros para o sono da noite.