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Capítulo 32: XXXII - Os convivas de Mr. Richard

Página 363
Richard; ele imitava estes apreciadores de vinho que conservam muito tempo no paladar cada gole que sorvem, e olham com indignação para os grosseiros bebedores que despejam de um trago tão preciosa bebida.

– E é assim – reflectia ele, pousando o livro e saboreando a consideração que lera –; ou mais ou menos sucede o mesmo com toda a gente. Se fosse possível fazer correr o mundo tanto à vontade dos que dele murmuram constantemente que se lhes tirasse todo o pretexto de murmurar, causar-se-lhes-ia não pequena mortificação.

Estes pensamentos foram interrompidos por um criado, que entrou para anunciar:

– Mr. Morlays.

– Verbi gratia – disse para si Mr. Richard, depois de ter dado ordem de mandar entrar o anunciado.

Efectivamente o inglês, que chegava, era um destes pessimistas, para quem o universo inteiro se apresenta tingido das mais escuras cores; era uma vítima, ao mesmo tempo lastimável e insuportável, do mau humor, que o douto Feuchtersleben chama – prosa vulgar da vida, irmão do tédio e da preguiça e envenenador que lentamente traz consigo a morte.

Mr. Whitestone, homem laborioso e contente do mundo, estava em constante oposição ao seu compatriota e amigo, que era destes que têm feito adquirir aos nevoeiros de Londres a imerecida fama de fomentadores do spleen – fama contra a qual principiam, com muito critério, a protestar os homens pensadores, descobrindo antes na ociosidade, favorecida por as fabulosas riquezas de alguns lords, a causa daquele mal de suicidas.

O aspecto de Mr. Morlays denunciá-lo-ia à medicina antiga como uma vítima desse misterioso humor negro – que ela chamou atrabilis. Era a variedade do inglês, que pode denominar-se escura; e a escuridade, que lhe estava no rosto, projectava-se-lhe também nas disposições morais.

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 363

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432