O que é possível é que, em virtude das especiais condições geográficas da Inglaterra e da sua natureza insular, ela não participe da sorte dos grandes continentes, dos quais está desligada; que prevaleça e sobreviva à ruína e submersão deles, vendo até acrescerem ao seu território as novas terras, que o cataclismo arrancar do fundo dos mares. Então talvez, e só assim, se poderá realizar o futuro que Mr. Brains imagina, sendo os ingleses os únicos possuidores do globo.
Depois, como se receasse que esta tão extravagante como patriótica teoria geológica não tivesse sido compreendida, acrescentou:
– Porque… reparem. Vejam este chapéu – e tomou para exemplo o chapéu de pano que servia a Mr. Richard durante as suas operações hortícolas. – Suponhamos esta copa o mundo; sendo as saliências das dobras os continentes, e as cavidades os mares; aquela pequena saliência do meio, que fica isolada das outras, seja a Inglaterra. Carregando eu nas saliências exteriores, até as desfazer, as cavidades elevam-se e vão aumentar a saliência do meio. Vêem?
E, como para não perder a feição pessimista ainda nesta concepção, concluiu:
– Talvez fosse uma felicidade que todas as saliências se desfizessem de vez!
Já vêem os leitores que, embora por processos diferentes, os dois compatriotas de Peel aguardavam com fé viva o mesmo fenómeno na história do futuro – o soberano predomínio da nação inglesa sobre o mundo inteiro.
Esta é de facto a crença de todo o verdadeiro inglês, diversificando apenas, como os dois grandes exemplares que o leitor tem à vista, na maneira de concebê-la realizada.
Mr. Richard sorriu à teoria histórico-geológica do amigo.
– Será bom que, por cautela, nos vamos passando para a ilha, Mr. Morlays. O fundo dos mares não é grande clima para viver, e o cônsul de Sua Majestade não nos isentará de sermos engolidos como simples portugueses.