Assim que me viu ele se dirigiu para mim e me ofereceu um cigarro.
- Observou bem as maravilhas do Mar Vermelho, professor? - perguntou-me, com um semblante alegre.
- Sim, capitão. Vi coisas notáveis. O “Nautilus” presta-se maravilhosamente bem para essas observações. É sem dúvida um barco inteligente! Estou encantado.
- É um barco inteligente, audacioso e invulnerável, professor. Não receia nem as terríveis tempestades, nem as correntes, nem os escolhos do Mar Vermelho.
- De fato, capitão, este mar é citado entre os mais perigosos do globo. Na antiguidade a sua fama era horrível.
- Exatamente, professor. Os historiadores gregos e latinos nunca falam bem dele. Estrabão afirma que ele é particularmente perigoso na época dos ventos etésios e na estação das chuvas. O árabe Edrisi, que o chama de Golfo de Colzum, conta que numerosos navios encalhavam nos seus bancos de areia e que ninguém se arriscava a navegar nele à noite. Era, ainda segundo Edrisi, um mar sujeito a terríveis furacões, semeado de ilhas inóspitas e “não oferece nada de bom”, nem nas suas profundezas nem à superfície.
- Vê-se bem que esses historiadores não viajaram a bordo do “Nautilus” - falei, certo de que o capitão ficaria satisfeito.
- É verdade - concordou ele sorrindo. - Quanto a viajar em barcos iguais ao meu, os homens de hoje não estão mais adiantados do que os antigos. Foram precisos muitos séculos para que se descobrisse a força mecânica do vapor. Quem sabe se de hoje a cem anos se verá um segundo “Nautilus”? O progresso é quase sempre lento, Sr. Aronnax.
- De fato, capitão, o seu barco está avançado um século ou talvez mais em relação à sua época.