Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 31: Capítulo 31 Pág. 155 / 258

Eram retratos de grandes vultos da história, cujas existências tinham decorrido numa perpétua devoção a uma grande ideia humana Kosciusko, o herói caído ao grito de Finis Poloniase; Botzaris, o Leônidas da Grécia moderna; O’Connell, defensor da Irlanda; Washington, fundador da União Americana; Manin, o patriota italiano; Lincoln, caído pela bala de um escravocrata; e finalmente o mártir da libertação da raça negra, John Brown, suspenso da forca, desenhado pelo terrível traço de Victor Hugo.

Que elo existiria entre aquelas almas heroicas e a alma do Capitão Nemo? Poderia eu, a partir daqueles retratos, desvendar o mistério da existência dele? Seria ele um campeão de povos oprimidos, um libertador das raças escravas? Teria participado das últimas agitações políticas ou sociais do século? Teria sido um dos heróis da terrível guerra americana, guerra lamentável e para sempre gloriosa?

De súbito o relógio bateu oito horas. A primeira pancada do pêndulo arrancou-me dos sonhos. Estremeci, como se olhos invisíveis pudessem mergulhar no mais profundo dos meus pensamentos e me precipitei para fora do quarto.

Faltando poucos minutos para as nove horas deixei o meu quarto e voltei para o salão. Mergulhado na semiobscuridade, estava deserto. Abri a porta que comunicava com a biblioteca. A mesma claridade insuficiente e a mesma solidão. Fui colocar-me perto da porta que dava para a escada central e fiquei a aguardar o sinal do canadiano.

Naquele momento os ruídos da hélice diminuíram sensivelmente e depois cessaram por completo. Qual seria o motivo daquela repentina alteração no andamento do “Nautilus”? O barco ter parado iria favorecer ou prejudicar o plano de Ned Land?

O silêncio só era quebrado pelas batidas do meu coração.





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