Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 41: Capítulo 41 Pág. 217 / 258

Os seus oito braços, ou antes os seus oito pés, implantados na cabeça, o que valeu a esses animais o nome de cefalópodes, tinham um desenvolvimento duplo do corpo e contorciam-se como as cabeleiras das Fúrias. Viam-se distintamente as duzentas e cinquenta ventosas dispostas nas faces internas dos tentáculos, sob a forma de cápsulas semi-esféricas. Por vezes as ventosas colavam-se aos vidros do painel. A boca do monstro, um bico córneo semelhante ao bico de papagaio, abria-se e fechava-se verticalmente. A língua, substância córnea, armada com várias fiadas de dentes agudos, saía trêmula daquela verdadeira guilhotina. Que fantasia da natureza! Um molusco com bico de ave! O corpo, fusiforme e bojudo no meio, formava uma massa carnuda que devia pesar de vinte a vinte e cinco mil quilos. A sua cor inconstante mudava com extrema rapidez, segundo a irritação do animal, passando sucessivamente do cinzento-lívido ao castanho-amarelado.

O que estaria irritando o molusco? Certamente a presença do “Nautilus”, maior do que ele e sobre o qual os seus braços e dentes não tinham qualquer poder. E no entanto, que monstros formidáveis são esses polvos, que vitalidade o Criador deu a eles, que vigor nos movimentos, uma vez que têm dois corações.

O acaso nos tinha posto na presença do calmar e eu não queria perder a ocasião de estudar cuidadosamente aquele exemplar dos cefalópodes.

Dominei o horror que me inspirava o seu aspeto e, pegando num lápis, comecei a desenhá-lo.

- Talvez seja o mesmo do “Alecton” - disse Conselho.

- Não - respondeu o canadiano. - O do “Alecton” havia perdido a cauda.

- Isso não seria uma razão - disse eu. - Os braços e a cauda desses animais renovam-se por reintegração. Em sete anos a cauda do calmar de Bouger teria tido tempo de crescer.





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