No dia 1 de janeiro de 1868, Conselho foi ao meu encontro na plataforma.
- Dá-me licença para lhe desejar um bom Ano Novo, senhor? - perguntou-me, com a gentileza que o caracterizava.
- Aceito e agradeço os seus votos, meu amigo.É como se estivéssemos em Paris, no meu gabinete do Jardim Botânico. Apenas lhe pergunto o que você entende por “um bom Ano Novo” nas circunstâncias em que nos encontramos. Será um ano que porá fim à nossa clausura ou um ano que verá continuar esta estranha viagem?
- Para lhe ser franco, senhor, não sei o que responder - disse-me Conselho. - É verdade que temos visto coisas curiosíssimas e nesses dois meses não tivemos tempo para nos aborrecermos. A última maravilha é sempre mais surpreendente do que a anterior e se esta progressão continuar, eu não sei onde chegaremos. Na minha opinião, em nenhuma outra época teremos outra oportunidade como esta.
- Nunca, Conselho.
- Além disso, o senhor Nemo vem cumprindo à risca a promessa que nos fez. Não nos tem incomodado de modo algum.
- Tem razão. Gozamos de inteira liberdade aqui.
- Penso, portanto, que não desagradará ao senhor se eu disser que um bom ano será aquele que nos permitir ver tudo...
- Tudo? Isso talvez leve muito tempo. Entre vocês, como Ned Land está reagindo a essa situação?
- As ideias dele são exatamente opostas às minhas, senhor. Ned é um espírito positivo e um estômago imperioso. Observar os peixes e comê-los não é suficiente para ele. A falta de vinho, pão e carne é demais para um digno saxão, familiarizado com bifes e habituado a beber gim ou “brandy”.
- Pela minha parte, isso não me atormenta, Conselho. Adaptei-me muito bem ao regime de bordo.
- Eu também - disse-me ele. - Será por isso que eu penso tanto em ficar, como Ned Land em fugir.