Vinte Mil Léguas Submarinas - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 75 / 258

Portanto, se o ano que começa não for bom para mim, sê-lo-á para ele e vice-versa. Assim, sempre haverá alguém satisfeito. Para concluir, o que eu realmente desejo é que aconteça o que mais agradar ao senhor.

- Obrigado, meu amigo. Peço-lhe apenas que aguarde para outra ocasião a troca dos presentes, e que agora a substituamos por um bom aperto de mão. No momento é a única coisa que tenho.

- O senhor nunca foi tão generoso - respondeu ele, com rara felicidade.

No dia 2 de janeiro havíamos percorrido onze mil trezentas e quarenta milhas, desde a nossa partida dos mares do Japão. Diante do esporão do “Nautilus” estendiam-se as perigosas paragens do mar de Coral, na costa nordeste da Austrália. A 4 de janeiro avistamos as costas da Papuásia. Nessa altura o Capitão Nemo me informou de sua intenção de chegar ao Oceano Indico através do Estreito de Torres. Falei sobre isso a Ned Land e ele ficou satisfeito. Aquela rota nos aproximava dos mares europeus.

O Estreito de Torres é considerado perigoso, tanto pelos escolhos que o semeiam como pelos terríveis selvagens que habitam as suas margens. Separa da Nova Holanda a grande ilha da Papuásia, também chamada de Nova Guiné.

O “Nautilus” chegou à entrada do estreito mais perigoso de todas as rotas marítimas conhecidas, uma passagem da qual se afastam até os navegadores mais corajosos, estreito que Luís Paz de Torres atravessou vindo dos mares do sul para a Malásia, e no qual, em 1840, as corvetas de Dumont d’Urville quase se perderam. O próprio “Nautilus”, superior a todos os perigos do mar, iria ter problemas com aqueles recifes coralíneos.

O Estreito de Torres tem cerca de trinta e quatro léguas de largura, mas está obstruído por numerosas ilhas, ilhotas, escolhos, que tornam a navegação quase impraticável através dele.





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