O Capitão Nemo tomou todas as precauções para atravessá-lo. O “Nautilus”, navegando á superfície, avançava a uma velocidade moderada. A sua hélice, como a cauda de um cetáceo, agitava as águas com lentidão.
Aproveitando essa calma, eu e meus companheiros fomos para a plataforma. Diante de nós elevava-se a caixa do timoneiro. Era o próprio Capitão Nemo quem se encontrava a dirigir o seu barco. O mar encrespava-se ondulando ao nosso redor.
Eram três horas da tarde. Eu conversava com Ned Land sobre o local perigoso que estávamos atravessando. De repente fui derrubado por um choque. O “Nautilus” acabava de bater num escolho e se imobilizara, ligeiramente inclinado para bombordo. Quando me levantei, vi o Capitão Nemo e o seu imediato examinando o estado do navio e trocando algumas palavras em seu idioma incompreensível. Tínhamos encalhado num desses mares em que as marés são fracas, circunstância desfavorável para o desencalhe do barco.
No entanto, o “Nautilus” não havia sofrido qualquer dano. O grande risco era de que ele ficasse preso para sempre naqueles escolhos. Eu pensava nessa desagradável possibilidade, quando o capitão, frio e calmo, sempre senhor de si, parecendo não estar contrariado e nem sequer emocionado, aproximou-se de mim e disse :
- Um simples incidente.
- Mas que talvez o force a pisar a terra de que fugiu! - atrevi-me a falar.
Ele me olhou sem demonstrar a mínima irritação e fez um gesto negativo, no qual se via a sua determinação de nunca tornar a pôr os pés num continente. Então disse:
- A nossa viagem mal começou, Sr. Aronnax. Não desejo privar-me tão depressa do prazer de sua companhia.
- No entanto, capitão - repliquei, ignorando o tom irônico da frase dele - o “Nautilus” encalhou na maré alta.