Uma Família Inglesa - Cap. 15: XV - Vida inglesa Pág. 176 / 432

– Então que tens tu a dizer da minha conversão? Desta comovente e miraculosa regeneração do filho pródigo? – perguntou Carlos a Jenny, quando chegavam à porta da sala da livraria, onde deviam separar-se.

– Que não sei se será muito duradoura – respondeu a irmã.

– E como queres que o seja, Jenny? Não viste que narcóticas delícias as deste conversar ao fogão? Dormir é um prazer; mas na minha idade!

– Então, Charles! – disse Jenny, olhando para ele, com ar de repreensão.

– Olha, minha boa Jenny, acredita o que te digo; eu fui hoje sincero deveras nas minhas tentativas de reconciliação com a fada do lar doméstico, com aquele génio bom que protegia a «gata borralhenta» na história que nos contavam em criança. Vim para casa, sonhando umas delícias de viver íntimo, as quais, infelizmente, tive o desgosto de achar que eram ilusórias. Tanto azul e dourado que via transformou-se em uma cor… pardacenta…

– Talvez tu sejas muito exigente.

– Ai, não o era, não. Mas que queres? Posso ter coragem para ouvir amanhã e depois e sempre a história do peru do reverendo Jackson? a das festas do Lorde Mayor? a das assuadas à rainha Carolina? ou deve-se-me estranhar que deserte diante das subtilezas teológicas dos doutores da nossa igreja, ou…?

– Tens razão; é preciso principiar por educar o coração, antes de tentar regenerar-te.

– O coração?! Que queres dizer?

– Tu vens para casa, como vais para o teatro; procuras distrair-te. Ora é claro que este viver de família não entretém uma imaginação como a tua, se é só para satisfazeres a imaginação que ficas; e concebo que tudo isto te deve ser insuportável, se o coração se fechou já de todo aos únicos gozos que nós podemos prometer-te.

– Não me faças tão endurecido que não saiba já apreciar os tocantes prazeres dessa convivência íntima, Jenny.





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