Uma Família Inglesa - Cap. 15: XV - Vida inglesa Pág. 177 / 432

Julgas que não sei o que vale a tua afeição e até a do pai? Mas ouve, filha, e não sejas muito severa comigo. Enquanto o pai há pouco falava, muito à sua vontade, na portentosa Companhia das Índias Orientais, eu estava a pensar…

– Em quê?

– Estava a pensar em que eram inteiramente falsas certas ideias, muito bonitas, que, esta tarde, durante um passeio, que dei pelo campo…

– Pelo campo!… Tu?!

– É verdade, pelo campo, eu… mas… certas ideias, dizia, que me haviam ocorrido por lá. Agora vejo melhor; e penso que se não deve até viver tão ligado, como era costume na antiga vida patriarcal. É justa, ou desculpável pelo menos, esta tendência moderna para afrouxar um pouco mais os laços de família, sem amortecer de todo os sentimentos que a animam e unem, mas tornando mais independentes os hábitos de viver de cada um. E é assim. Que se lucra em reunir em um feixe apertado dois ou três homens de índoles e de gostos diversos, só porque são parentes, a ponto de impedir-lhes os movimentos e a liberdade de acção? O mais que sucede é nenhum deles poder dispor de toda a energia das suas faculdades; incomodam-se reciprocamente, de apertados que estão, e… ódio não direi… mas… às vezes… certa má vontade… pequenas dissensões, e… quando menos se espera, mais azedas discórdias ainda, são as inevitáveis consequências disso.

Jenny abanava a cabeça, fitando o irmão, enquanto ele falava.

– Que doutrinas! – disse ela por fim – que triste filosofia a tua… de hoje. Cada vez te compreendo menos, Charles.

Carlos pôs-se a rir.

– Então porquê, Jenny? Que achas tu em mim de tão incompreensível?

– Há dias… na manhã que se seguiu a uma das muitas noites que passas fora de casa, e quando era mais natural que estivesses nestas ideias de agora, falaste-me com eloquência e convencimento nas doçuras da vida de família; persuadirias daquela vez o mais extraviado.





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