Uma Família Inglesa - Cap. 15: XV - Vida inglesa Pág. 175 / 432

, etc., etc.

porém uma voz, como a de Jenny, meiga, melodiosa e modulada com inteligência e graça, parece transformar essa língua ingrata em não sei que cantar de aves, que tem atractivos, até para os que a não compreendem.

O recolhimento religioso com que Jenny lia os mais belos episódios do Velho ou do Novo Testamento aumentava o efeito agradável da sua voz.

Infelizmente, porém, a leitura descarnada e despida de comentos daquelas páginas não bastava ao fervoroso anglicanismo de Mr. Richard Whitestone; por isso, a cada passo, a interrompia para citar as interpretações de alguns dos reverendos doutores da sua episcopal igreja, ou os recentes desenvolvimentos que ouvira ao eclesiástico inglês na missa protestante do Campo Pequeno.

Jenny olhava para o irmão e fazia-lhe sinal para que se reprimisse e, pelo menos, simulasse atenção às divagações do pai. Serviu-se às dez horas chá preto, e Mr. Richard readquiriu um pouco de animação para, a propósito do chá, falar na importância da Companhia das Índias Orientais, nos serviços feitos por ela ao comércio, na sua história, nas dificuldades com que lutou e nos meios de que dispunha. Em seguida expôs um projecto de lavra própria sobre o engrandecimento das colónias inglesas, formulou acerbas censuras ao sistema colonial português e, em seguida, uma expressa condenação da política francesa em geral.

Mr. Richard odiava cordialmente a França. Ou ele não fosse inglês.

Enfim, às onze horas cessou Mr. Richard de falar; as pálpebras começaram a pesar-lhe; a chama do fogão a amortecer, sem que as tenazes fizessem o seu ofício, avivando-a.

Meia hora depois, separava-se a família, não tendo Carlos, em toda a noite, dito uma dúzia de palavras.

Jenny acompanhou ainda algum tempo o irmão através dos corredores que conduziam ao quarto de cada um.





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