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Capítulo 15: XV - Vida inglesa

Página 175
, etc., etc.

porém uma voz, como a de Jenny, meiga, melodiosa e modulada com inteligência e graça, parece transformar essa língua ingrata em não sei que cantar de aves, que tem atractivos, até para os que a não compreendem.

O recolhimento religioso com que Jenny lia os mais belos episódios do Velho ou do Novo Testamento aumentava o efeito agradável da sua voz.

Infelizmente, porém, a leitura descarnada e despida de comentos daquelas páginas não bastava ao fervoroso anglicanismo de Mr. Richard Whitestone; por isso, a cada passo, a interrompia para citar as interpretações de alguns dos reverendos doutores da sua episcopal igreja, ou os recentes desenvolvimentos que ouvira ao eclesiástico inglês na missa protestante do Campo Pequeno.

Jenny olhava para o irmão e fazia-lhe sinal para que se reprimisse e, pelo menos, simulasse atenção às divagações do pai. Serviu-se às dez horas chá preto, e Mr. Richard readquiriu um pouco de animação para, a propósito do chá, falar na importância da Companhia das Índias Orientais, nos serviços feitos por ela ao comércio, na sua história, nas dificuldades com que lutou e nos meios de que dispunha. Em seguida expôs um projecto de lavra própria sobre o engrandecimento das colónias inglesas, formulou acerbas censuras ao sistema colonial português e, em seguida, uma expressa condenação da política francesa em geral.

Mr. Richard odiava cordialmente a França. Ou ele não fosse inglês.

Enfim, às onze horas cessou Mr. Richard de falar; as pálpebras começaram a pesar-lhe; a chama do fogão a amortecer, sem que as tenazes fizessem o seu ofício, avivando-a.

Meia hora depois, separava-se a família, não tendo Carlos, em toda a noite, dito uma dúzia de palavras.

Jenny acompanhou ainda algum tempo o irmão através dos corredores que conduziam ao quarto de cada um.

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pág. 175 (Capítulo 15)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 175

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432