Uma Família Inglesa - Cap. 16: XVI - No teatro Pág. 182 / 432

XVI - No teatro

Dias depois, afixavam-se cartazes nas esquinas, anunciando a Lucia de Lammermoor.

Mr. Richard Whitestone não era assíduo frequentador do teatro lírico.

Havia porém uma circunstância que, infalivelmente, o levava lá, uma vez pelo menos.

Tendo já desesperado de ouvir no teatro do Porto música de compositores ingleses, como Haendel, Gray, Arnold, Bishop e outros, cujos nomes a cada momento citava com entusiasmo, resignara-se a afagar somente o seu acrisolado patriotismo com o ir ao teatro, quando se cantavam aquelas óperas, cujos libretos eram extraídos de algumas das obras-primas da literatura inglesa.

O Othelo, o Macbeth, os Capulletos, as Prisões de Edimburgo, os Foscaris, o Marino Faliero, e outras neste mesmo caso, lutavam vantajosamente com o seu muito amor pelo fogão e traziam ao público aquela fisionomia, radiante de contentamento e expressiva de saúde, que o leitor já conhece.

Preparava-se de antemão, nessa tarde, relendo a obra que servia de assunto à ópera, e ia depois com vontade para o teatro.

Não era porém Rossini, Verdi, Bellini, Ricci e Donizetti os que o atraíam e enlevavam; era Shakespeare, era Byron, era Walter Scott, cujos grandiosos vultos lhe parecia estar vendo no palco evocados, por sua vez, pelos mesmos personagens que o génio deles tinha evocado outrora. – A música era o acessório. Os aplausos do público roubava-os Mr. Richard, por patriotismo, aos maestros, para os conferir àqueles seus famosos conterrâneos.

No número das tais óperas contava-se Lucia de Lammermoor. Assunto escocês, tratado por pena escocesa, e das mais admiráveis em desenhar tipos simpáticos e imorais, não era para Mr. Richard resistir-lhe. Havia de ir por força.

Foi; mandou tomar um camarote para aquela noite.





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