Uma Família Inglesa - Cap. 16: XVI - No teatro Pág. 192 / 432

De uma das ocasiões em que, para prosseguir neste exame, procurava limpar os vidros do binóculo, tirou do bolso um pequeno lenço de mulher, com cercadura de renda, para o qual se pôs a olhar admirado.

Depois, segurando-o por uma das pontas, e mostrando-o à irmã, disse, sorrindo:

– Ainda me tinha esquecido isto, Jenny.

– O quê?

– Outra apreensão que fiz, com esperança de por ela obter esclarecimentos, e… que cabeça a minha!… nem já sabia que o tinha em meu poder…

– Mas a que te referes?

– Então esqueceste-te já da minha confidência, no dia do Carnaval?

– Ah! – disse Jenny, olhando imediatamente para Manuel Quintino.

As vistas deste tinham-se fixado também no lenço, e parecia examiná-lo cada vez com mais curiosidade.

– Dá-mo – disse Jenny, estendendo a mão, para recebê-lo.

– Não posso – respondeu Carlos, retirando a sua, a rir.

– Dá-me licença? – disse Manuel Quintino, estendendo também a mão para ele.

– Para o entregar a Jenny depois?

– Não, não é; queria ver…

– Que tem você a ver com este lenço? – perguntou Carlos, dando-lho.

Jenny mostrava-se cada vez mais inquieta.

Manuel Quintino examinava o lenço com atenção.

– É célebre! – dizia ele. – É exactamente um dos lenços que eu dei a minha filha, no dia dos anos dela.

– Como? – perguntou Carlos, olhando para a irmã.

A inquietação de Jenny redobrava.

– Não que é exactamente!… as rendas!… o bordado dos cantos… Só falta… Ah!… mas a marca também!… um C!… Este lenço é de Cecília! Como é possível?!…

Jenny julgou que era tempo de intervir.

– Ora aí temos o Sr. Manuel Quintino embaraçado com uma coisa bem simples – disse ela, rindo. – Esse lenço é de Cecília, é; que dúvida? Deixou-o ela, por esquecimento, há dias… na terça-feira… em minha casa. Este buliçoso tem o costume de levar tudo do meu quarto, sem me consultar e, julgando que era meu…

– Ah! bem me parecia que era o lenço que eu tinha dado a Cecília.





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