Uma Família Inglesa - Cap. 23: XXIII - Diplomacia do coração Pág. 279 / 432

– Não, senhor – respondeu a rir –; conforme a qualidade da obra, assim se prefere a qualidade do ponto.

– Ah! Visto isso, o posponto… é um ponto também?

– Pois está claro. É um ponto que se dá assim. Ora repare.

E Cecília, acompanhando a palavra com a acção, principiou a trabalhar com todo o vagar, ao passo que Carlos assistia à demonstração com a atenta seriedade de um discípulo. Ainda que me parece que menos vezes lhe seguiam os olhos os movimentos da agulha do que se fixavam a admirar a perfeita modelação e delicado colorido da mão que a movia.

– Repare – dizia Cecília – dá-se, suponhamos, o primeiro ponto; maior ou menor, conforme a delicadeza da obra, já se sabe. Assim. Ora agora, a agulha entra aqui mesmo pelo meio deste primeiro ponto… Vê?… E vai sair adiante, de maneira que este segundo ponto tenha o mesmo comprimento do primeiro. Entende? A terceira vez entra por onde saiu a primeira, a quarta por onde saiu a segunda… e assim por diante… Entende agora?

– Muito bem. E o sobrecosido?

– Mas como lhe deu para querer saber destas coisas?

– É uma esquisitice. Concordo. Mas… então que quer? Mau é que eu tenha um desses desejos. Incomodo-me deveras, se os não satisfaço.

– Ah! Não sabia que era caprichoso.

– E não concebe esta maneira de sentir?

– Eu, não.

– Não diga que não. É impossível. A imaginação feminina, sem dúvida mais delicadamente sensível do que a nossa, não pode ignorar estes pequenos caprichos. O capricho é, a meu ver, uma prova de superioridade moral em quem o tem. Vamos; termine a minha lição.

– Então que quer saber agora?

– Que é um sobrecosido?

Cecília condescendeu ainda em lhe explicar o que era o sobrecosido, como já lhe explicara o que era o posponto. Carlos deu-se no fim por satisfeito.





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