Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 23: XXIII - Diplomacia do coração

Página 278
E senão ouçamos.

Cecília trabalhava, certa noite, em uma camisa de paninho para o pai.

– Que nome se dá a isso que está a fazer? – perguntou Carlos, curvando-se sobre a costura.

– É uma camisa – respondeu Cecília, sorrindo. – Pois nem conhece!?

– Que é uma camisa sei eu; não perguntava isso; mas… essa costura em que está agora a trabalhar, como se chama?

– Isto? É um posponto!

– Ah! Um posponto!… Um posponto é a mesma coisa que um sobrecosido; pois não é?

Cecília desatou a rir a esta pergunta.

– Não, senhor, não é. Nem tem nada uma coisa com outra.

– Não?! Pois olhe… parece, porque… posponto é… como quem diz: depois do ponto; sobrecosido, sobre ou depois de cosido, e portanto… depois do ponto também.

– Será; mas… em todo o caso, são coisas diversas.

– Então que diferença fazem?

– Ora que curiosidade! Há-de interessar-lhe muito agora conhecer essa diferença.

– E por que não? Não vê que ando com vontade de ampliar os meus conhecimentos? Não tem reparado na minha docilidade a ouvir as lições de escrituração?

– Mas essas podem servir-lhe.

– Mas vamos; um posponto é isso; muito bem. E agora um sobrecosido?

Cecília, rindo, procurou, na obra que estava a fazer, o exemplo já realizado de um sobrecosido e mostrou-o a Carlos, dizendo:

– Aí está um sobrecosido. Agora estude a diferença a ver se a sabe explicar.

Carlos examinou-o com aparente atenção e a mais composta seriedade.

E Cecília interrompia o trabalho, só por causa disto.

– Então? – perguntou ela maliciosamente, quando Carlos deu mostras de haver terminado o exame.

– Reconheço que de facto são coisas diversas, mas não posso bem dizer em que consiste a diferença.

– O que o deve afligir muito.

– Mas diga – insistia Carlos, que parecia deveras empenhado em elucidar este negócio dos pospontos – todas as costuras se fazem a posponto?…

Cecília não podia escutar com seriedade este inquérito inesperado.

<< Página Anterior

pág. 278 (Capítulo 23)

Página Seguinte >>

Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 278

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432