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Capítulo 23: XXIII - Diplomacia do coração

Página 280

Agitou-se ainda algum tempo a discussão a respeito de assuntos desta natureza.

Carlos foi durante ela sempre sério; Cecília, a cada momento, a interrompia com o riso, que lhe desafiava a estranha lição, que nunca esperava ter de dar a um discípulo deste género.

Em quase todos os serões passados em casa de Manuel Quintino, os colóquios entre Carlos e Cecília versaram sobre objectos de igual transcendência e sustentaram-se em um tom da mesma gravidade que este que registamos.

Aí estão uns colóquios inofensivos e inconsequentes, pensará talvez o leitor. Pois engana-se, se pensa assim. Recorde-se da sentença de quem, nestas coisas de amor, escreveu ex professo:

Parva leves capiunt animos

De facto, nada há de tanta influência para o coração como um colóquio assim, bem fútil, bem insignificante, no estado a que haviam chegado os sentimentos de Carlos e de Cecília.

Quanto mais ligeiro, quanto mais pueril é o assunto de um diálogo destes, tanto mais se empenham os corações dos que o sustentam.

Os diálogos amorosos, que estamos costumados a escutar entre o galã e a primeira dama, no tablado dos teatros, ou a ler nos capítulos dos romances, diálogos cortados de interjeições e cheios de subtis teorias do mais acrisolado sentimento, são excepções na vida real; e, quando se dão, sai-se deles mais livre, mais disposto a esquecer, menos propenso a sonhar; servem como de expansão aos afectos acumulados – expansão em que estes às vezes completamente se dissipam. Mas os constrangimentos, os silêncios, dos quais a imaginação em vão procura livrar-se e, sobretudo, o conversar aturado sobre mil coisas fúteis e indiferentes, isso sim, que é bem mais para temer; porque, enquanto dura a troca recíproca de fórmulas insignificantes, o coração põe em campo outros emissários secretos e invisíveis, que adiantam consideravelmente as negociações pendentes e conseguem realizar a entrega da praça, sem o mínimo combate manifesto.

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pág. 280 (Capítulo 23)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 280

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432