Uma Família Inglesa - Cap. 9: IX - No escritório Pág. 102 / 432

– Rapariga a quem eu escreva…

– Do nosso ajuste – dizia Manuel Quintino, e, falando para Carlos alternadamente: – Ele aí vem com as raparigas; o que eu lhe queria era os cuidados!… – O preço do género…

– Então parece-lhe indigno o assunto? Ora diga, Manuel Quintino, diga se, quando era rapaz, não maçava também com o tal assunto os velhos do seu tempo.

– E a competente comissão. – Não que eu, quando era rapaz, já tinha mais em que cuidar… – Em vista pois das ordens recebidas… – Cuida que me levantava ao meio-dia para pensar em moças, e que me deitava lá por altas horas, ainda por causa delas?

– Então que fazia você? – insistiu Carlos, tomando a pena e desenhando uma figura na margem do jornal do dia.

– Com lucros prováveis… – O que eu fazia bem o sei; ainda não me esqueceram as madrugadas dos meus vinte anos…

– Ah! Madrugadas!… Bem entendo!…

– Para trabalhar, para trabalhar! Está muito enganado, se cuida que todos tiveram a sua vida. Bom era isso! – A falência da casa Rodrigues e…

– Grande vida a minha! – continuava Carlos.

– Há lá nada mais sensabor? Veja que precioso tempo perdido nesta soturna sala.

E ao dizer isto ia, insensivelmente, sem reparar no que dizia, aproximando a pena da borda da carta que Manuel Quintino escrevia, e quase principiava a desenhar algum ornato nela.

– Oh! Oh! – exclamou o velho, arredando-lhe a mão. – Que ia fazer? Se lhe parece, suje-me agora a carta.

Carlos ergueu-se, rindo, e pôs-se a passear na sala.

– O pai ainda não veio hoje aqui?

– Há que tempos!

– E não volta?

– Há-de voltar, se Deus quiser.

– É preciso fechar isto mais cedo hoje – continuou Carlos. – Estes senhores precisam de gozar o Carnaval.

– Bom Carnaval é o deste mundo!

– Que horas são?

– Duas e vinte minutos – respondeu Manuel Quintino, sem olhar para o relógio e não errando meio minuto.





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