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Capítulo 10: X – Jenny

Página 114
assim?

Pressentimentos! Que espírito filosófico há aí que os admita?

Jenny era ainda uma criança, quando perdeu a mãe; no meio dos jogos e dos brinquedos infantis veio um dia surpreendê-la este profundo golpe no coração; ao seu lado, crescera o mal ameaçador e terrível, mas, no descuido de tão tenros anos, só dera por ele quando a vítima lhe caía prostrada nos braços. Feliz idade, a destas imprevidências! Num momento a vida inteira se lhe afeiçoou muito diversa do como até então a antevira. Cedo, muito cedo, aquela criança franzina e débil recebeu a solene investidura da sacrossanta missão de mulher; transmitiu-lha a mãe, já moribunda; legou-lhe, nos derradeiros instantes, a tarefa abençoada, que até o fim cumprira, sem um só dia de desalento.

Apertando nas mãos já frias as da filha lacrimosa, que só então vira a morte, que, tanto havia, a ameaçava nos seus mais queridos afectos, incumbiu àqueles poucos anos o pesado encargo da família; e, com a voz trémula e os olhos turvados pelas sombras do adormecer final, disse-lhe que a essas mãos ia deixar entregue a paz da vida interior, a felicidade dos seus; que a elas confiava os tesouros e bálsamos de afeições e de carinhos, com que, no lar doméstico, se sanam tantas dores e desilusões, colhidas lá fora, nas lutas da sociedade; depois, cingindo ao peito a filha, como em extrema recomendação, para a qual as palavras lhe faltavam já, morreu beijando-a; ungiu-a de suas últimas lágrimas e impressionou-lhe a mente infantil a ponto que a órfã, depois de a chorar sobre o túmulo, levantou-se mulher, mulher apesar dos seus doze anos, mulher pela sisudez dos pensamentos, pela consciência viva e fervente da sua nova missão.

É um ensino eficaz o do infortúnio! Desde essa hora fatal, como que se abriram os olhos de Jenny para verem mais fundo no coração daqueles que era dever seu tornar felizes.

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pág. 114 (Capítulo 10)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 114

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432