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Capítulo 10: X – Jenny

Página 115
Só então principiou a reflectir que, entre os corações mais nobres e puros, se estabelecem às vezes contrastes, de que podem resultar conflitos dolorosos; que o infortúnio e as misérias da vida nem sempre provêm da funesta influência do mal de que se tenha deixado eivar completamente uma alma humana; que mais vezes é do encontro de duas paixões, na essência generosas, que a tempestade se origina. No alto mar, um vento dominante pode governar o movimento e a derrota de um navio, mas é necessário que seja extrema a sua violência para que ele, por si só, o faça soçobrar; penetre porém o vaso mais poderoso no seio desses redemoinhos que formam os ventos encontrados, e a submersão será quase inevitável.

É assim na vida.

Não basta que sejam grandes e simpáticos os caracteres, que laços de família ou sociedade prendem uns aos outros, para que entre eles exista harmonia. Que nas suas órbitas os animem movimentos contrários, e serão já de temer os embates e as perturbações fatais.

A natureza física também nos mostra como venenos enérgicos resultam às vezes da combinação de elementos inofensivos.

Tudo isto se foi esclarecendo, à força de meditações, no espírito da pequena Jenny, que tão precoce adeus teve de dizer àquelas espontâneas e não motivadas alegrias da infância, que nela findaram com o último suspiro da mãe.

E cedo foi, muito cedo para uma criança inglesa que, de ordinário, na idade em que as outras principiam já a querer ser senhoras, brinca alegre e descuidada nos parques, correndo, saltando, rindo, sem se afligir por a fímbria dos vestidos ainda se lhe não humedecer na relva.

Esta livre expansão, que sabem e costumam dar à alegria as pequenas inglesas, é talvez a causa de serem desafectadamente sérias, quando enfim a natureza, e não a arte prematura, as faz mulheres.

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pág. 115 (Capítulo 10)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 115

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432