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Capítulo 10: X – Jenny

Página 113
Há exemplos de perfumes tão subtis que, aberto o vaso que os contém, quase instantaneamente se dissipam na atmosfera; assim estes mistérios interiores, inconsistente alimento da nossa fantasia, perdem-se também, ao tentarmos comunicá-los.

Guarde cada um para si essa parte do pensamento, superstições infundadas, crenças pueris, que não podem separar-se de nós, sem que nós próprios as desconheçamos e com os estranhos zombemos delas, das pobres, que não nasceram para viver senão assim, presas à alma, de cuja essência parece receberem vida.

São como umas delicadas algas marítimas cuja textura tenuíssima se expande na água em formosas arborizações iludindo as esperanças dos que, namorados de tanta beleza, as arrancam de lá; fora do ambiente em que vegetam, cedo se mirram e desformam.

Bem lúcida e forte era a razão de Jenny, e contudo, no mundo interior, nutria a crença ilusória – pelo menos ilusória me parece, a mim que de fora a examino – de que aquele retrato de sua mãe não tinha uma expressão invariável.

Eu queria dizer que isto era sentido, e não pensado, pela bondosa menina; mas não sei se o rigor filosófico me permitirá a linguagem; e contudo, não vejo como de outra sorte dar conta deste frequente fenómeno psicológico – o da persistência de certas crenças irracionais, nos espíritos mais vigorosos e lógicos.

Dias havia em que nos traços e delineamentos daquela miniatura Jenny julgava descobrir um ar de alegria, que logo se lhe insinuava no coração; outros em que, pelo contrário, ganhavam vulto a seus olhos não sei que sombras de tristeza, que a faziam estremecer, como se fossem presságio de mal.

Seriam reflexos de pressentimentos próprios que então a iludiam? Talvez; e ficar-se-á compreendendo melhor o mistério, interpretando-o

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pág. 113 (Capítulo 10)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 113

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432