Uma Família Inglesa - Cap. 10: X – Jenny Pág. 115 / 432

Só então principiou a reflectir que, entre os corações mais nobres e puros, se estabelecem às vezes contrastes, de que podem resultar conflitos dolorosos; que o infortúnio e as misérias da vida nem sempre provêm da funesta influência do mal de que se tenha deixado eivar completamente uma alma humana; que mais vezes é do encontro de duas paixões, na essência generosas, que a tempestade se origina. No alto mar, um vento dominante pode governar o movimento e a derrota de um navio, mas é necessário que seja extrema a sua violência para que ele, por si só, o faça soçobrar; penetre porém o vaso mais poderoso no seio desses redemoinhos que formam os ventos encontrados, e a submersão será quase inevitável.

É assim na vida.

Não basta que sejam grandes e simpáticos os caracteres, que laços de família ou sociedade prendem uns aos outros, para que entre eles exista harmonia. Que nas suas órbitas os animem movimentos contrários, e serão já de temer os embates e as perturbações fatais.

A natureza física também nos mostra como venenos enérgicos resultam às vezes da combinação de elementos inofensivos.

Tudo isto se foi esclarecendo, à força de meditações, no espírito da pequena Jenny, que tão precoce adeus teve de dizer àquelas espontâneas e não motivadas alegrias da infância, que nela findaram com o último suspiro da mãe.

E cedo foi, muito cedo para uma criança inglesa que, de ordinário, na idade em que as outras principiam já a querer ser senhoras, brinca alegre e descuidada nos parques, correndo, saltando, rindo, sem se afligir por a fímbria dos vestidos ainda se lhe não humedecer na relva.

Esta livre expansão, que sabem e costumam dar à alegria as pequenas inglesas, é talvez a causa de serem desafectadamente sérias, quando enfim a natureza, e não a arte prematura, as faz mulheres.





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