Uma Família Inglesa - Cap. 10: X – Jenny Pág. 116 / 432

Cessaram pois em Jenny os risos dessa idade, risos expansivos e irreprimíveis, que a cada palavra, que à menor causa rebentam, como da laranjeira florida chovem sobre o prado as pétalas nevadas e fragrantes, à mais leve viração que lhe agita a folhagem.

Afez-se a reflectir, a votar-se toda à felicidade dos seus, procurando insinuar-se nos pequenos segredos do carácter de cada um, para os dirigir, sem luta funesta, na mesma esfera de acção, no mesmo círculo em que tinham de viver.

Desde essa época principiou a crescer e a vigorar com rapidez o predomínio de Jenny em toda a família – suave sujeição, grata aos que a suportam, como uma bênção do céu.

Até então amara-se em Jenny uma criança meiga, cujas graças joviais faziam distrair o espírito de preocupações mais sérias; cedo porém tomou esse amor diverso e mais respeitoso carácter.

Em Mr. Richard Whitestone, à afeição protectora, de que rodeava a filha, principiou a misturar-se uma deferência, que tinha os seus vestígios de veneração; em Carlos, a familiaridade que as idades quase iguais e os jogos e estudos comuns haviam feito nascer entre ambos degenerou gradualmente em um sentimento de mais respeito, em uma dócil submissão, que em todos os seus actos se denunciava.

Forte com esta dupla preponderância, ia cumprindo Jenny religiosamente o legado da mãe, sempre com o pensamento nela, sempre com os olhos na sua imagem, na qual julgava entrever reflexos da alegria ou da tristeza que a sorte da família devia por certo despertar naquela alma de justa, que a contemplava do Céu.

Este oráculo, para todos mudo, só eloquente para os sentidos da filha, consultava-o Jenny com ardente fé ao encerrar-se sozinha no quarto, onde a luz e o rumor de fora penetravam discretamente, como convinha a lugar de tão piedosos mistérios.





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