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Capítulo 10: X – Jenny

Página 116

Cessaram pois em Jenny os risos dessa idade, risos expansivos e irreprimíveis, que a cada palavra, que à menor causa rebentam, como da laranjeira florida chovem sobre o prado as pétalas nevadas e fragrantes, à mais leve viração que lhe agita a folhagem.

Afez-se a reflectir, a votar-se toda à felicidade dos seus, procurando insinuar-se nos pequenos segredos do carácter de cada um, para os dirigir, sem luta funesta, na mesma esfera de acção, no mesmo círculo em que tinham de viver.

Desde essa época principiou a crescer e a vigorar com rapidez o predomínio de Jenny em toda a família – suave sujeição, grata aos que a suportam, como uma bênção do céu.

Até então amara-se em Jenny uma criança meiga, cujas graças joviais faziam distrair o espírito de preocupações mais sérias; cedo porém tomou esse amor diverso e mais respeitoso carácter.

Em Mr. Richard Whitestone, à afeição protectora, de que rodeava a filha, principiou a misturar-se uma deferência, que tinha os seus vestígios de veneração; em Carlos, a familiaridade que as idades quase iguais e os jogos e estudos comuns haviam feito nascer entre ambos degenerou gradualmente em um sentimento de mais respeito, em uma dócil submissão, que em todos os seus actos se denunciava.

Forte com esta dupla preponderância, ia cumprindo Jenny religiosamente o legado da mãe, sempre com o pensamento nela, sempre com os olhos na sua imagem, na qual julgava entrever reflexos da alegria ou da tristeza que a sorte da família devia por certo despertar naquela alma de justa, que a contemplava do Céu.

Este oráculo, para todos mudo, só eloquente para os sentidos da filha, consultava-o Jenny com ardente fé ao encerrar-se sozinha no quarto, onde a luz e o rumor de fora penetravam discretamente, como convinha a lugar de tão piedosos mistérios.

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pág. 116 (Capítulo 10)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 116

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432