– Jenny – disse, com a voz trémula de comoção – eu sei que a menina é minha amiga e julgo que o melhor é contar-lhe tudo…
– Seja o que for que tem para me dizer, se o que a faz hesitar é a dúvida da minha amizade, posso assegurar-lhe, Cecília, que…
– Não, não é, não podia ser – acudiu Cecília, e, por um movimento rápido, impensado, irresistível, levou aos lábios as mãos delgadas de Jenny, que não lhe pôde fugir a tempo.
– Que está a fazer?! – disse Jenny, rindo.
– Deixe-me; sabe como eu lhe quero, sabe a confiança que tenho em si, Jenny, pois não sabe? Mas é que… há certas coisas que sempre custam a dizer.
Jenny sorriu com expressão particular; previa uma confidência amorosa no embaraço de Cecília.
Cecília compreendeu a significação daquele sorriso, porque se apressou a dizer:
– Não, não é o que julga, Jenny. Não teria a menor hesitação em lho dizer, se fosse isso. Pode crê-lo.
Apesar da segurança com que Cecília o afirmava, duvido de que, tão sem custo, se resolvesse a fazer uma confidência que, sendo a primeira desse género, faz titubear os mais arrojados. Mas acreditemo-la sob palavra, que não temos outro remédio.
– Seja o que for – respondeu Jenny, procurando inspirar-lhe confiança – não deve ter escrúpulos em mo revelar. Escrúpulos porquê? Não somos raparigas ambas? Da mesma idade quase?
– Mas a Jenny é tão diferente de todas nós! Tem tanto juízo, que não pode deixar de estranhar certas coisas, que nós, as que temos a cabeça leve, fazemos sem pensar, e de que mais tarde nos arrependemos.
– Está a ser injusta ao mesmo tempo comigo e consigo, Cecília. Nem essa cabeça é leve, nem eu da sisudez que me faz.
– Pois bem – continuou