a filha de Manuel Quintino – estou resolvida a contar-lhe tudo, mas há-de prometer-me dizer no fim, com a maior franqueza, o que pensa do que eu lhe contar, sim? Olhe que ficamos de mal, se me não disser a verdade, ainda que me seja desfavorável.
– Não há-de ser.
– Adivinho que será.
– Ó meu Deus! Cecília, está a assustar-me – disse Jenny, jovialmente. – Há no seu rosto e nas suas palavras tal expressão de terror, que me mete medo! Praticaria de facto algum crime?…
Estas palavras de Jenny, e ainda mais o tom em que foram ditas, fizeram rir Cecília e atenuaram muito a timidez com que lutara até ali.
– O que eu quero então – disse ela – é que me deixe continuar, enquanto falo, a cercadura deste cabeção, que ficou em meio. Não sei de que é, mas acho-me mais à vontade tendo os olhos entretidos.
– Como quiser; mas, nesse caso, deixe-me ocupar também os meus, examinando o fundo da saca.
– Não trago mais nada, a não ser…
– Está bom, está bom; eu verei o que é. Principie.
Aplicadas assim cada uma à ocupação que escolheram, Cecília principiou:
– Não sei se já lhe tenho falado nas filhas do major Matos, minhas vizinhas há bastantes anos e antigas companheiras de mestra.
– Muitas vezes. Bem sei.
– Estas meninas são muito boas, muito minhas amigas, mas…
Jenny ergueu os olhos para Cecília, sentindo-a hesitar.
Cecília prosseguiu:
– Mas sobretudo o que são… – digo-lhe isto a si, Jenny – são ainda mais amigas de se divertir. O génio do pai, tão alegre como o de qualquer rapaz de vinte anos, não desmereceu nas filhas, que todos os dias inventam novos divertimentos.
– É uma felicidade ter um génio assim, pois não é? – disse Jenny, examinando um pequeno bordado.
– Isso não vale nada – acudiu Cecília, reparando também – não sei como o trouxe aí.