Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 149 / 432

A apologia exaltada do governo interrompia-a ela às vezes com um aparte capaz de produzir crise ministerial, se fosse escutado nas Câmaras; uma catilinária, acerbamente oposicionista, desafiava-lhe reflexões que neutralizavam o contágio antigovernamental que principiava a fazer das suas nas profundas convicções de ordem do Sr. José Fortunato.

O leitor deve estar certo de que, por aquele tempo, monopolizavam a curiosidade pública as variadas peripécias da Guerra da Crimeia.

Cecília era obrigada a ler aquelas descrições de carnificina que todos os dias enchiam as colunas dos periódicos; isto o fazia ela sempre com a fronte contraída de desgosto.

Manuel Quintino era pelos aliados, José Fortunato esposava a causa dos russos – um e outro sem saberem bem porquê. Cecília era só pelos mortos e feridos.

Um dia, parou no meio da descrição de um dos mais sanguinolentos encontros dos dois exércitos, para interpelar o pai sobre a causa desta guerra implacável.

A pergunta embaraçou consideravelmente Manuel Quintino, que olhou para o Sr. José Fortunato, como a ver se lhe vinha auxílio dali; o Sr. Fortunato o mais que pôde dizer foi: – «Que a guerra era lá por causa de umas coisas.»

Cecília também não exigiu saber mais.

– «Os russos… – leu ela naquele serão – fazem fogo durante a noite sobre o campo dos aliados; estes abstêm-se de responder.»

– Têm medo – comentou logo o Sr. José Fortunato, com um sorriso.

– Isso é plano! – acudiu Manuel Quintino, com ares de quem entrava no mistério.

– «Os atiradores aliados respondem, porém, de dia com proveito» – continuava Cecília.

– Então? Era ou não era plano? Eu logo vi – exclamou Manuel Quintino, exultando.

– Balas perdidas – replicava o outro, encolhendo os ombros com desdém.

– «Os soldados – prosseguiu Cecília – pedem com entusiasmo ao general em chefe que dê a batalha» – e, acabando de ler isto, fez um gesto de aversão.





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