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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 148

– O rio vai muito cheio?

– Parece que começa a baixar um pouco.

– Sempre está um tempo, santo nome de Deus!

– E que desgraças tem já causado!

– Que eu dou-me melhor com o frio – acrescentava daí a instantes Manuel Quintino.

– Eu lhe digo, eu também, para que digamos, não passo mal no Inverno; tenho mais apetite; mas esta catarral…

Tossia, para exemplo.

Todos os dias diziam isto um ao outro.

– Para as terras é que isto vai mal.

– Já tudo está por a manta de Judas.

Frase da linguagem popular, que quer dizer, não sei porquê, que tudo está caro.

– Pois a carne?!

– Se deixaram ir todo o gado para o estrangeiro! Devia fazer-se uma lei que proibisse esse desaforo.

Alvitre económico que ainda não perdeu de moda.

– Isto está o diacho!

Este apotegma fechava quase sempre, e com chave de ouro, o diálogo. Calavam-se os dois.

Cecília, que esperava por este silêncio e já por hábito sabia o que significava, ia então buscar as folhas do dia e preparava-se para ler; os dois velhos dispunham-se a escutar.

Qualquer deles experimentava um prazer indefinível em ouvir ler Cecília.

Lia com tanta inteligência e graça, que o Sr. José Fortunato confessava que muitas vezes, ouvindo-a, entendia coisas em que debalde tentara penetrar, a grandes esforços de leitura própria.

Era uma cena curiosa aquela.

A compaixão paternal só perdoava a Cecília a secção dos anúncios; o mais tudo lhes lia a condescendente rapariga; o artigo de fundo, com resignação; com intrepidez, as notícias estrangeiras; com curiosidade, as locais; o folhetim, com mais vontade, e tudo sem o menor constrangimento que pudesse aguar aquele prazer dos seus ouvintes.

O génio de Cecília nem sempre lhe permitia proceder, sem comentários, àquela leitura toda.

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pág. 148 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 148

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432