– Pois vão para lá! – respondia o Sr. José Fortunato, como homem que conhecia a preceito os recursos de defesa da praça.
– «Em Sebastopol há 2000 bocas-de-fogo» – lia ainda Cecília.
José Fortunato olhou para o seu amigo, com gesto provocador e triunfante; parecia que o convidara a atacar, propondo-se ele a defender com aqueles auxiliares.
Em seguida Cecília leu que Vassif-Pachá acabava de tomar o comando do exército da Ásia.
Foi a vez de Manuel Quintino pagar o gesto do outro, como se depositasse grande confiança no Vassif e nas operações campais do exército da Ásia. Mas o gesto de triunfo foi maior ainda quando ouviu que, a 30 de Janeiro, partira para a Crimeia Ulrich, que ele não sabia quem era, com a guarda imperial francesa; José Fortunato só teve, a compensar-lhe o receio desta acometida, a notícia de que estavam 6000 russos em Pruth.
As notícias locais eram o terreno neutro onde caminhavam a par, e sem conflito, as curiosidades do auditório.
Uma coisa não podia Cecília perdoar aos localistas, era que tratassem levianamente certos assuntos tristes: a prisão de um pobre, uma desordem doméstica, uma tentativa de suicídio, por exemplo. Impacientava-se com isto, e formulava um voto de censura, que Manuel Quintino e José Fortunato apoiavam.
O noticiário vinha então abundante de descrições de desastres, causados pela cheia do Douro.
Era com consternação que Cecília lia a narração de tantas misérias. Comoveu-a sobretudo um facto verdadeiramente trágico, do qual ainda haverá talvez no Porto quem conserve memória. O irmão de um piloto de um dos navios que a corrente arrebatara, depois de tentar em vão salvar o irmão em perigo, perdeu a razão, vendo-o sucumbir; e esta dupla catástrofe feriu de morte o velho pai de ambos.