Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 152 / 432

Esta parte ouvia-a Manuel Quintino dormitando. Não lhe levem isto a mal os folhetinistas. José Fortunato, pelo contrário, ouvia-a com ardor; a maneira de ler de Cecília inoculara-lhe o gosto dos romances. Tomava agora pelas peripécias um calor exagerado. Para ele era ponto de fé que tudo aquilo acontecera, e que tinham vivido, ou viviam ainda, os personagens entre quem se travava a acção. Censurava por isso com a mesma violência e louvava com a mesma satisfação esses heróis fantasiados, como se fossem membros reais da sociedade.

Lido o folhetim, Cecília passava o jornal ao Sr. Fortunato, e ia tratar do chá. Fortunato lia para si os anúncios.

Manuel Quintino passava então pelo sono.

Depois travava-se entre os dois um diálogo, todo cortado de bocejos contagiosos; – os assuntos eram para estes efeitos. Eis o programa desta noite:

Primeira parte: – Fortunato principia por dizer – «Pois é verdade». – Replica-lhe Manuel Quintino – que a vida estava para ele. – «Queixe-se, que tem de quê» – diz o outro. – «E não tenho pouco» – responde Manuel Quintino. Dois bocejos de ambos os lados, e pausa.

Segunda parte: – Manuel Quintino queixa-se de umas dores de cabeça. Fortunato atribui-as ao tempo e esfrega os olhos. Manuel Quintino inclina-se a que seja antes do estômago. O outro aconselha-lhe que não use de café ao almoço. Bocejos recíprocos.

Terceira parte: – O Sr. Fortunato, olhando para o tecto, nota que a sala tem diminuto pé-direito. Manuel Quintino responde que, para a largura, é o bastante. O outro diz algumas palavras sobre as vantagens dos estuques. Manuel Quintino concorda e procura uma transição para falar contra os senhorios; Fortunato responde-lhe com uma diatribe contra os caseiros. Reproduz-se um bocejo em Manuel Quintino, que se transmite ao outro.





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