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Capítulo 13: XIII - Vida portuense

Página 151
Manuel Quintino, que tinha razões para saber o que era o amor de pai, limpou uma lágrima a ocultas. José Fortunato, com ser boa criatura, tinha, em circunstâncias assim, certas observações secas, de fazerem perder a paciência a um santo.

Ouvindo ler aquilo, disse:

– Ora! Isso é história! Os gazetilheiros às vezes…

– História! Ó Sr. Fortunato, por quem é! – exclamou Cecília impaciente. – Lembre-se de que é um irmão a querer salvar um irmão, e a vê-lo morrer; de que é um pai que perde dois filhos; não acha ainda razão de mais para a morte ou para a loucura?

– Pois então o outro que não fosse meter-se ao perigo; devia lembrar-se…

– Ora devia lembrar-se!… Quem se lembra de nada naqueles momentos? O Sr. Fortunato tem coisas!

Fortunato já estava arrependido do que dissera.

– Com menos motivos – acudiu Manuel Quintino – se arriscou há tempos na Foz o Carlitos, lá o filho do meu patrão. Virou-se no meio do rio um pequeno barco valboeiro, que ia governado por duas crianças, uma das quais nem sabia nadar; e ele, que andava às gaivotas com outros ingleses – que é o seu gosto – não esperou mais nada e zás… mergulhou como um peixe e salvou a criança. Depois continuou a caçar, com a roupa molhada no corpo, ainda por muito tempo, em termos de ganhar qualquer doença.

Cecília estava tão entretida a examinar não sei o quê, que vinha no periódico, tão perto tinha os olhos das letras, que julgo nem dava atenção ao episódio narrado por Manuel Quintino.

É verdade que, assim que o Sr. José Fortunato, depois de ouvi-lo, disse, com os seus modos secos: – «Estroinices», Cecília levantou a cabeça com ímpeto e fitou-o corando e com uma expressão pouco lisonjeira para o velho.

Eu não sei bem explicar este movimento em uma pessoa distraída, como ela estava, movimento que aliás não teve consequências, pois, voltando à posição anterior, passou a ler o folhetim.

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pág. 151 (Capítulo 13)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 151

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432