Uma Família Inglesa - Cap. 13: XIII - Vida portuense Pág. 155 / 432

– Pois que cuidava?

– Eu sei lá o que cuidava. Eu cá de romances não entendo. E agora por isso lembra-me que aquele endiabrado rapaz, o Carlitos, teimava que me havia de emprestar lá uns romances… Eh! eh! Tem diabo o rapaz.

– Também está um estroina! – disse o Sr. Fortunato, que era dos que tinham Carlos na conta de homem perigoso.

– Mas deixe lá, que é uma boa alma! – respondeu Manuel Quintino. – Ninguém lhe pode querer mal. É capaz de tirar a camisa do corpo para socorrer um pobre. Aí está que uma vez viram-no, era ainda dia claro, entrar na cidade, trazendo o cavalo à arreata e na sela vinha uma pobre velha, que ele encontrou na estrada com um pé desmanchado; outro que fosse… Ó Cecília, então? onde tens tu o sentido, que nem reparas que ali o Sr. Fortunato tem há tanto tempo a xícara vazia?

– Ai, perdão – disse Cecília, corando pela distracção em que caíra.

Não sei bem por que isso a fez corar assim; mas o facto deu-se. O Sr. Fortunato, que havia muito tossia e suspirava com o fim de chamar para si, e para a xícara, as atenções, disse por delicadeza:

– Não tinha pressa.

Manuel Quintino continuou tecendo louvores a Carlos.

– Mas enquanto à tal história da mulher – dizia Fortunato, recebendo de Cecília a outra chávena – isso também foi parlapatice no rapaz, pois…

– Então; faz favor de ver se quer mais açúcar – disse Cecília, com um certo modo desabrido, que eu também não sei explicar, e que contrastava com a doçura que lhe era habitual.

O Sr. Fortunato notou-o.

– Está muito bem, menina – disse ele. – Faz-me o favor de mais uma colherinha. Está muito bem.

– Menos isso, Sr. Fortunato – continuou Manuel Quintino. – Bem se vê que não conhece o Carlitos. De imposturas é que ele nunca foi. Já em criança…

– Meu pai, sirva-se antes destes bolos – disse Cecília de modo tão afectuoso, que alvoroçou a sensibilidade do velho.





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