Uma Família Inglesa - Cap. 1: I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor Pág. 2 / 432

Era o caso de mais uma vez repetir o Audaces fortuna… de já estafada memória.

Esta imunidade, em parte devida à lúcida inteligência, com a qual Mr. Richard sabia superintender nos variados negócios do seu trato, em parte a não sei que benigno espírito, ou acaso feliz, a que muitas vezes parece andar subordinada a fortuna, valera-lhe uma ilimitada confiança entre todos, com quem o negócio o ligava, confiança da qual, nem em circunstâncias frívolas, se mostrou nunca indigno depositário.

O quotidiano aparecimento do negociante estrangeiro na Praça – nome que entre nós se dá ainda à Rua dos Ingleses, principal centro de transacções do alto comércio portuense – festejavam-no benevolentes sorrisos, rasgadas e pressurosas reverências, frases de insinuantes amabilidades e afectuosos shake-hands, segundo o mais ou menos adiantado grau de familiaridade, que cada qual mantinha com ele.

Ninguém se dispensava de qualquer destas demonstrações de estima, ou as impusesse o prestígio dos avultados capitais e da social liberalidade do comerciante britânico, ou – como de preferência opinarão os que melhor conceito formam dos homens – um longo passado sem mancha, uma rectidão e cavalheirismo, aquilatados todos os dias.

Mr. Whitestone não se deixava porém desvanecer com estas homenagens dos seus confrades, aliás merecidas.

Decididamente não era a vaidade o seu defeito dominante. Aspirando essa espécie de incenso moral, que tão bem formadas cabeças atordoa, não sentia, no íntimo, turbar-se a limpidez, verdadeiramente cristalina, da razão, nele pouco sujeita a esvaimentos.

Os gelos daquele coração, formado e desenvolvido a 51 graus de latitude setentrional, não se fundiam com tão pouco.

Loas, hinos encomiásticos, capazes, ainda que em prosa,





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