Uma Família Inglesa - Cap. 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência Pág. 202 / 432

Vamos agora a casa de Manuel Quintino, onde nos encontraremos com antigos conhecimentos.

Ao voltar do teatro, contara Manuel Quintino à filha, não só o enredo da Lucia, que não pudera concluir no camarote, mas todos os principais sucessos da noite; esqueceu-lhe porém o episódio do lenço, ao qual não dera importância.

Cecília escutou-o calada. – Dir-se-ia que já a impacientava ouvir tantas vezes falar em Carlos; porque, de facto, parecia propósito formado em Manuel Quintino o ter sempre que contar do rapaz, desse estouvado, a quem, apesar de todos os estouvamentos, o bom homem queria deveras.

A julgar pela aparência de ligeira mortificação que tomava nesses instantes o rosto de Cecília, devia supor-se que existia nela uma forte antipatia para com o predilecto do pai. – Mas será prudente não confiar demasiado no rigor lógico destas deduções fisionómicas, e muito mais em mulheres.

No dia seguinte, pela manhã, ao partir para o escritório, Manuel Quintino não deixou a filha menos melancólica do que nos anteriores; até lhe pareceu mais falta de cor. Falta de cor! Deus sabe os íntimos e dolorosos estremecimentos que estas palavras desafiam no coração de um pai! São para ele as faces rosadas de uma filha, como o firmamento para estas organizações impressíveis em excesso, onde, ao toldar-se de nuvens o céu, se projectam as sombras da tristeza; onde, quando ele ostenta um azul sem mácula, se reflecte a luz das alegrias.

Imagine-se o cuidado com que devia partir o bom homem.

Que tratos não dava à memória! Que concepções mais ou menos extravagantes! Que minuciosas investigações sobre todos os seus próprios actos e palavras não vinha fazendo pelo caminho, só para descobrir a causa daquela mal disfarçada melancolia! E tudo em vão!

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