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Capítulo 17: XVII - Contas de Carlos com a consciência

Página 203
escritório não o deixou este cuidado; mais de uma vez, se surpreendeu com a pena, a incansável companheira, parada no meio de uma palavra, com os olhos fitos no papel, e sem verem coisa alguma; em completa abstracção, ele, tão pouco propenso a isso!

Depois da morte da mulher – havia quinze anos – e da doença de Cecília – havia seis – nunca tal lhe acontecera; estranhava-se.

Alguma razão tinha Manuel Quintino para estes cuidados.

Não que se pudesse dizer Cecília verdadeiramente triste; a imaginação do pai, excitada pelo seu muito amor, exagerava o mal, à força de o temer; mas perdera a despreocupação, quase infantil, que era natural nela; desgostara-se de repente de alguns passatempos que, no meio das canseiras domésticas, ainda conservava de criança; tomara-se inesperadamente do gosto de passear só pelos corredores e pelas ruas do quintal, que não era próprio do seu carácter pouco meditativo, até então pelo menos. Manuel Quintino estranhava, por exemplo, não a ver fazendo saltar o ágil e engraçado gato maltês, que não andava pouco sentido com a mudança; não a ouvir já cantar a meia voz, quando trabalhava à janela do quintal; ou formular observações, inocentemente satíricas, a respeito de alguns vizinhos, e as impertinentes perguntas com que, muito de propósito, costumava impacientar a criada; nem o mais ligeiro indício denunciava agora nela uma índole propensa ao jovial.

Na manhã em que Manuel Quintino lutava com as apreensões que estas mudanças em Cecília lhe despertavam, trabalhava ela no quarto com as janelas fechadas, contra o seu costume, e tão distraída, que não era raro parar-lhe a agulha a meio caminho da costura.

Por mais de uma vez, Antónia, vindo consultá-la sobre negócios domésticos, foi constrangida a repetir a pergunta, porque Cecília não a tinha compreendido – o que, seja dito em abono da Sr.

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pág. 203 (Capítulo 17)

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Capa do livro Uma Família Inglesa
Páginas: 432
Página atual: 203

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Espécie de prólogo, em que se faz uma apresentação ao leitor 1
II - Mais duas apresentações, e acaba o prólogo 11
III - Na Águia de Ouro 21
IV - Um anjo familiar 42
V - Uma manhã de Mr. Richard 53
VI - Ao despertar de Carlos 61
VII - Revista da noite 71
VIII - Na praça 81
IX - No escritório 94
X – Jenny 110
XI – Cecília 119
XII - Outro depoimento 128
XIII - Vida portuense 139
XIV - Iminências de crise 159
XV - Vida inglesa 168
XVI - No teatro 182
XVII - Contas de Carlos com a consciência 197
XVIII - Contas de Jenny com a consciência de Carlos 212
XIX - Agravam-se os sintomas 222
XX - Manuel Quintino procura distracções 236
XXI - O que vale uma resolução 247
XXII - Educação comercial 262
XXIII - Diplomacia do coração 277
XXIV - Em que a senhora Antónia procura encher-se de razão 283
XXV - Tempestade doméstica 290
XXVI - Ineficaz mediação de Jenny 298
XXVII - O motivo mais forte 305
XXVIII - Forma-se a tempestade em outro ponto 312
XXIX - Os amigos de Carlos 326
XXX - Peso que pode ter uma leviandade 344
XXXI - O que se passava em casa de Manuel Quintino 353
XXXII - Os convivas de Mr. Richard 362
XXXIII - Em honra de Jenny 371
XXXIV - Manuel Quintino alucinado 381
XXXVI - A defesa da irmã 397
XXXVII - Como se educa a opinião pública 406
XXXVIII - Justificação de Carlos 412
XXXIX - Coroa-se a obra 422
Conclusão 432